MOÇOS E VELHOS...

Dia desses, presenciei uma discussão onde alguns jovens hostilizavam uma pessoa com mais idade e assim falavam com ares de empáfia:

- Somos jovens! Renovaremos o mundo!...

Sentiam-se fortes e bem dispostos. Respiravam a longos haustos e supunham-se os únicos, os salvadores do mundo...

Questionavam acerca de suas possibilidades, apresentavam as suas vantagens, debatiam seus projetos. E se referiam aos mais velhos com certo desdém, quase perguntando:

- Que podem realizar os mais velhos, aqueles que já passaram da meia-idade?

À distância, eu observava a cena que não me saiu da memória, e fiquei pensando no que ouvira, todavia, como isso não era novidade, lembrei-me que ouvi alguém narrar alhures algo mais ou menos assim:

O discípulo, de meia idade, procurou o mestre para falar a respeito das futricas havidas entre moços e mais velhos, e expôs seus receios e vacilações, dizendo estar desalentado diante das afirmações dos moços, e que não se via em condições de executar sua tarefa, em razão de sua idade, bem como não se sentia com a mesma fortaleza dos mais jovens.

O mestre esperou que ele falasse e disse:

- Poderíamos acaso perguntar a idade do Criador Supremo? Se fôssemos contar o tempo, na ampulheta das inquietações humanas, quem seria o mais velho de todos nós? A vida, na sua expressão terrestre, é como uma árvore grandiosa. A infância é a sua ramagem verdejante. A mocidade se constitui de suas flores perfumadas e formosas. A velhice é o fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que morrem depois do primeiro beijo do Sol, e flores que caem ao primeiro sopro da Primavera. O fruto, porém, é sempre uma bênção do Todo-Poderoso. A ramagem é uma esperança; a flor uma promessa; o fruto é a realização. Só ele contém o doce mistério da vida, cuja fonte se perde no infinito da divindade!...

O discípulo redargüiu:

- A verdade, mestre, é que me sinto depauperado e envelhecido, temendo não resistir aos esforços a que se obriga a minha alma, no trabalho da semeadura do bem.

O mestre indaga:

- Escuta, diz ele com serenidade enérgica, achas que os moços de amanhã poderão fazer alguma coisa sem os trabalhos dos que agora estão envelhecendo?!... Poderia a árvore viver sem a raiz, a alma sem Deus?! Lembra-te da tua parte de esforço e não te preocupes com a obra que pertence ao Todo-Poderoso. Sobretudo, não esqueças que a nossa tarefa, para dignidade perfeita de nossas almas, deve ser intransferível. Teus jovens companheiros de discipulado também serão velhos. Não te magoe a palestra dos jovens da Terra. A flor, no mundo, pode ser o princípio do fruto, mas pode também enfeitar o cortejo das ilusões. Quando te cerque o burburinho da mocidade, ama os jovens que revelem trabalho e reflexão; entretanto, não deixes de sorrir, igualmente, para os levianos e inconstantes; são crianças que pedem cuidado, abelhas que ainda não sabem fazer o mel. Perdoa-lhes os entusiasmos sem rumo, como se devem esquecer os impulsos de um menino na inconsciência dos seus primeiros dias de vida. É preciso esclarecê-los e não pense que outro possa fazer no conjunto da obra do universo, o esforço que te compete.

- Agora vos compreendo mestre!

O mestre respondeu:

- Nunca te esqueças, ser moço ou velho, no mundo, não interessa!... Antes de tudo é preciso ser de Deus!...

De contínuo, o jovem confia na energia física, o mais velho se estriba na experiência, entretanto, necessário se faz entender que o ideal é a união de ambas, pois, uma sem a outra...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 28/04/2011
Reeditado em 16/10/2012
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