O QUE É TEU POR DIREITO E COMPULSÃO...

Issachar espreita a amada ao longe... sob a fresta de uma saudade costumaz... A ausência de Raphaela trojeva-lhe pesadas e prófugas sensações. A pele eriçada desnuda o que sente e do outro lado a água cai bailando sobre o corpo esguio de Raphaela. Ele apenas a deseja sem palavras... Sonda-lhe e a quer para si. O cheiro de xampu e florais se perde em suas entranhas. Absorve o ar e a fragrância de abluo de sua pretendida. Quem o retrairá dessa nostalgia?

Sob a herege de sua tácita excitação, o frêmito da epiderme é somente a mais exterior das percepções. Por dentro apetece-lhe as vísceras cobiçar a nudez de Raphaela. A alma desse miserável homem tornara-se refém de sua impudica inquietação. Quem o conterá?

De uma transposição de si mesmo sai ao encontro de sua consorte. Ela alvitra esperar-lhe igualmente... O encontro é lúdico, lúbrico e romanceado. Ambos se admitem induzir pelas mesmas expectações. Não há mais água, florais, ar, vento... nada... Apenas dois mortais em simbiose. Calor e paixão. O tempo se chama volição e a existência se lume em amor. Nada além disso... apenas do mesmo modo...

Os caninos cravados nos lábios e as úngulas cravadas no dorso e na parte mais circunspecta... ofegante e calorosamente desejoso deleite se sente; não há quem se renda... o delírio não encerra armistício. Quando desfaleceram sobrepujados e inteiramente subjugados por esse amor? Não há quem diga... somente o tempo apresentará réplicas. Enquanto isso sentamo-nos à janela do voyeurismo e contemplemos a palma das almas... porquanto o corpo já não pode mais vencer... Vencido de veleidade tornou-se escravo da lubricidade incruenta de dois entes vorazmente apaixonados... A pele eriçada revela o segredo e na espreitada, Issachar apenas jogava com o fetiche de Raphaela no box do banheiro de seu apartamento...

Ao lado, na banheira, duas taças de vinho e no recipiente de água e gelo um delicioso Cabernet... Duas taças... O box turvado pela bruma do chuveiro... O corpo desvanecido do lado de cá... Issachar agora admira o que é teu por direito e compulsão... Direito porque tomou o coração de Raphaela, e compulsão porquanto encerra nela a religiosidade de uma afeição- mais completo amor do mundo.

FidelisF
Enviado por FidelisF em 28/04/2011
Código do texto: T2936005
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