Bagagem

Ele estava voltando para casa.

Admirava a sua força, sua coragem, mas até que mudar fora mais fácil do que pensara, e afinal, dois meses passaram bem rápido.

Sentira saudades de casa, dos amigos, mas não podia negar que o que mais lhe pesou no coração fora a saudade de seu amor.

Ora, partiu com a jura de amor eterno, com a jura de que seria esperado. Foi tudo perfeito, como em um filme. Chuva, passos apressados na rua vazia, trocas de olhares já saudosos do que ainda não partiu, gestos simples mas que guardam sentimentos profundos. Lembra-se de tirar seu casaco, cobrir a amada, abraçá-la... Depois um beijo de despedida. Um ‘Te esperarei, não esqueça, serei sua, sempre’. Um até logo.

Depois disso, dois meses, estudos, provas, adaptação... Saudade. E essa saudade era tão intensa e especifica que não couberam amigos, familiares, só cabia o ‘te esperarei’ só cabia o barulho da chuva servindo de trilha sonora pra cena do beijo de despedida.

Dois meses, depois mais quatro horas, o clima dentro do ônibus era sufocante, mesmo com o ar ligado. A espera dolorosa, mas a certeza do reencontro era reconfortante.

Ele chegou em casa. Abraçou os pais. Riu com os amigos. Contou as experiências.

Sentiu como se nunca tivesse saído de casa. “Será que foi tudo um sonho? ’’. Sentiu-se culpado, perdido. De fato vivera pra saudade ao invés de aproveitar a nova vida.

Mas sabia que valia a pena. “Te esperarei “

Um telefonema. Um encontro. A lanchonete com o melhor sanduíche da cidade. Lembrou que sentiu saudade disso também.

A mão dela desvia da dele. Ela sorri, mas ele vê tristeza em seus olhos...

Era saudade...

Agora são os lábios dela que desviam.

Ele percebe. A tristeza em seus olhos não são saudades, mas sim pena.

Ela se levanta. Agradece o encontro. Diz que podem ser amigos.

Ele pensa que deixou de fazer amigos por ela.

Ela sorri. Não quer nem saber como foram esses meses para ele, apesar dele só pensar em como ela passara, se dormira bem, se comera direito.

Ela vai embora.

Ele chora.

Reencontram-se casualmente nessas duas semanas que ele está em casa.

Tudo muito frio.

Ele chora.

Ela sorri.

Ele parte.

Ela fica, dessa vez fica.

O coração dele não levou bagagem.

[feito para alguém que um dia amei... mas que hoje esqueci essa bagagem em algum ponto da minha vida]

Eliézer Santos
Enviado por Eliézer Santos em 29/04/2011
Código do texto: T2938641
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