COMER FEIO, MAS COMER GOSTOSO

Outro dia na rua, horário de almoço, entrei com um colega num pequeno restaurante especializado em massas. Pedimos então uma macarronada, que não demorou muito a sair.

Em seguida vi o meu colega enrolando o macarrão no garfo como, aliás, manda o figurino, enquanto eu, do modo como procedo em minha casa, cortando-o com a faca para degustar.

Nunca dei bolas para etiquetas; procuro comer como achar mais conveniência e prazer. O alimentar-se, penso eu, desde que seja com higiene, deve ser realizado da forma como mais nos agrada. Comer bonitinho dentro da etiqueta, isso é pura palhaçada! Não tenho que dar satisfações a ninguém! Perdoem-me os que não concordam.

Meu finado pai costumava me elogiar porque sempre segurei o garfo com a mão esquerda e a faca com a direita, mas faço isso porque sou canhoto e me sinto melhor assim, não por causa de ‘boas maneiras’.

Se viajasse ao Japão, lá em algum hotel ou restaurante, durante as refeições, certamente eu exigiria um talher e dispensaria os pauzinhos, os tais hashi. Ninguém me obrigaria a fazer o contrário. Não teria nenhuma cerimônia.

Mas voltando ao restaurante aqui. Percebi que os ocupantes de uma mesa vizinha estavam perplexos, todos me observando. Um, inclusive, balançando a cabeça negativamente.

Interessante é que o ambiente estava infestado de moscas e eu não via ninguém preocupado com aquilo. Aí resolvi bolar um negócio. Um negócio que acho que a maioria de vocês não aprovaria. Disse eu, então, ao meu colega: “Vou ao WC e enquanto isso me faça o favor de ficar aqui abanando o meu prato por causa dos insetos”. E lá fui ao sanitário. No caminho passei por um dos garçons e perguntei: “Existe algum lixão por aqui perto? Nunca vi tanta mosca!” “Não – respondeu-me ele – é por causa do tempo... Esse é o tempo delas”. Então, eu lhe disse: “Engraçado!... O tempo delas só acontece aqui, pois lá em minha casa por enquanto ainda não chegaram. Será porque as moscas reconhecem que sabemos o que é inseticida?”

E os vizinhos da minha mesa seriamente me acompanhando com os olhos.

No WC lavei cuidadosamente as mãos, embora já tivesse feito quando ali chegara (estava só repetindo, era necessário para o que eu planejava) e voltei para a mesa, porém antes pedindo ao garçom três toalhinhas de papel para deixar sobre ela.

E aí, verificando que tudo estava em ordem, comecei a comer a macarronada agora sem os talheres, apenas usando os dedos, (este era o plano). Fui até ao fim e era a minha primeira vez. Comer macarrão com os dedos, com as mãos faz uma lambuzada, contudo descobri que é mais gostoso. Deixei os meus espectadores, até o meu colega, de bocas abertas! Terminei primeiro que todos, enxuguei as mãos com as toalhinhas, me levantei, passei próximo dos que me olhavam e de repente... O que é que eu vi?! (Eta! Foi melhor do que poderia esperar). Duas moscas a nadarem no molho da lasanha deles, os quais não notaram. Também pudera! Não tiravam os olhos de cima de mim... Então, as mostrando, exclamei: “Poxa! Acho que essas moscas perderam a compostura e aproveitaram um vacilo de vocês!”. Eles não disseram nada, mas aos pobres dos insetos xingaram bastante. Finalmente me despedi com: “Um bom apetite para todos!”

E naquele restaurante não pisei e não pisarei tão cedo. Talvez quando a época das moscas lá passar... Porém se eu for – já sabem – não irei cumprir nenhuma formalidade. Ah, isso nunca!