A HORA DO ANGELUS

Montes Claros é uma cidade única e surpreendente. Costumo frequentar o quadrilátero que compõe a rua Governador Valadares até a Praça da Matriz, mais precisamente as imediações do Café Galo.

Ali se concentram lojas, lanchonetes, escritórios, consultórios e livrarias. Toda essa oferta, mais a diversidade de tipos humanos e o zanzar de vendedores ambulantes de CD’s piratas, é garantia de festa permanente.

Ontem, na hora do Ângelus, sentei-me num banco da praça da Matriz enquanto aguardava o badalar dos sinos e, simultaneamente, o esguichar da fonte - saudável hábito a que fui induzido pelos amigos Petrônio Braz e Luis Brejeiro. Então percebi que, sentadas num banco, duas garotas de aproximadamente 15 anos se abraçavam e trocaram carinhos sem nenhum pudor. Um pouco mais adiante, jovens deitados na grama bebiam no gargalo de uma garrafa e, em meio a tamanha algazarra, ignoravam completamente os transeuntes, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Logo em seguida dois rapazes se aproximaram, caminhando com os braços em volta das cinturas, mexendo nos cabelos um do outro, olhando nos olhos etc.

Foram recebidos efusivamente pelos demais. Eram alegres e engraçados.

A certa altura um dos rapazes (?) que acabara de chegar apanhou uma florzinha e, mui gentilmente, a beijou e ofereceu ao seu companheiro. Notei que o namorado, ou namorada, não sei a definição, fechou os olhinhos e suspirou profundamente ao receber o presentinho.

Que maravilha! Uma cena digna do filme “Romeu e Julieta”!

Conclui que essa nova geração está se formando com mais autonomia e espontaneidade, e principalmente sem medos.

Não sou nenhum ogro ou bicho do mato; sou até um pouco evoluído, creio eu. Sei, por exemplo, usar um telefone celular, e até de certa forma o computador. Estou até aprendendo a jogar videogame com os meus filhos Marden Willian e Victor Hugo. Entretanto, fico assustado com essas modernidades. A minha reação foi de estranheza, nada homofóbica. Foi uma reação instintiva diante de algo estranho para mim, que fugia ao convencional.

Por mais que me esforce, não me habituo a tanto.

Acho que o mundo mudou. E eu, contudo, não percebi.