ÀS VEZES

As pessoas às vezes podem parecer, as pessoas às vezes podem estar; as pessoas, porém, dificilmente podem ser. A mentira é muitas vezes virtude e contraste de pessoas; o que é defeito, arma, flecha atirada, é omissão: algo à surdina, num tom minucioso, planejado e não descarado e estrondoso como a mentira.

Sim. Começar afirmando e comprovando a introdução é, realmente, doloroso: parecia algo, algo estava presente, mas tudo isso que eu achava ser, não era e não podia ser, às vezes acontece. Vamos tentar usar o “às vezes”, a expressão de um fundo — com camadas calejadas — de esperança, de — no fundo de toda essa camada de esperança—vontade.

Hoje presencio a decepção de pessoas, ou pior, num singular — que no meu mundo de estereótipos e rótulos significa muito —. Quando UMA pessoa provoca isso ela joga fora tudo aquilo em que eu esperava, confesso que não acreditava; mas aguardava, realmente achava possível. O que hoje sinto é a tentativa de transformar decepção em indiferença, um exercício corrosivo que infringe a barreira psicológica da dor e a torna física. O que amanhã prevejo: a mesmice e falta de objetivos que uma vida que me dá status proporciona, a falha do antigo querer anônimo que se transforma cada vez mais em dilema. Às vezes, precisamos encarar as pessoas pelas suas atitudes, e não pelo o que você acredita com que se parecem. Às vezes.

(Matheus Santos Melo)