Perdas

Tantas são as formas de se perder alguém. Uma palavra mal colocada, as emboscadas da vida, os caminhos que constituem nossas escolhas, nossas vidas. Pessoas que significaram tanto, que deixaram marcas, que representaram tantas coisas bonitas em uma época de nossas vidas... Pessoas que somem, passam e se tornam memórias longínquas.

Cheiros, tons de voz, gestos, sorrisos, olhares. Tudo se perde com o passar dos dias, meses, anos.

A dor que fica, da ruptura abrupta, sem preparação, é absurda. Fica a sensação de que tinha que ter explicação, tinha que ter um sentido, uma forma amena de dizer adeus, não dá mais, acabou, some da minha vida, seu filho de uma puta, você colocou tudo à perder. Tinha que ter um roteiro, tinha que ser menos doloroso, menos amargo o gosto do fracasso, do adeus.

Eu sei que tive responsabilidades, eu fiz as minhas escolhas, dei os meus passos, construí minhas estradas. Eu sei que falhei, que poderia ter feito um esforço, que devia ter dito alguma coisa para evitar sua partida, tinha que ter dito: “não vá!”. Eu me calei, eu sei. Eu tive minha parcela de culpa.

E o que tínhamos? Porque tudo tem que ser nomeado? Tínhamos a nós mesmos, quando estávamos juntos. Mas eu queria mais, sempre quero mais, quero acordar com o outro, vê-lo, ouvi-lo, acha-lo entre meus lençóis. O que eu quero? O que eu quero?

Perdi a mim, perdi a você. Nada restou de nós, se é que nós um dia formos alguma coisa. Há alguns anos atrás éramos imaturos. O que somos hoje?

Perdas, apenas isso. Perdemos a nós mesmos.

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 03/05/2011
Reeditado em 05/05/2011
Código do texto: T2947000
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.