A chave

Já não tenho suportado a inclemência do meu algoz.

Esse tem me levado noite a noite a uma grande ilusão

atormentantemente sedutora, um pesadelo diabólico,

onde meus famélicos desejos que não se esgotam,

querem que meu corpo se funda ao daquela

que me aparece linda, sobejamente sensual onde

a pouca roupa de renda deixa propositadamente

que se veja aquelas coxas belamente torneadas.

O sexo

fingindo se esconder num fio de contas

evoca que lhe atenda. Que fortemente se introduza a lança

no coração do dragão que se chama desejo e que ali mora.

O ventre em seu tremelicar no compasso da música grita meu nome.

E os seios, são de uma graça que parecem dois pomos saborosamente maduros e ávidos para saciar os mais intrínsecos desejos imagináveis que a boca do homem consiga ter.

Ela sorri e estende em minha direção os braços,

mostrando na mão um pequenino tridente, ou melhor, uma chave.

E continua sofregamente dançando aquela música que entorpece...

Que importa se lá fora já é madrugada!...

Meu olhar a acompanha.

Pouso o copo na mesa... acendo mais um cigarro.

E num tenebroso esforço de negação, tento segurar

firme, com os dedos crispados, o que resta do meu juízo.

Mas de repente levanto-me, e

antes de qualquer outro:

Compro a chave!

Honório Roque
Enviado por Honório Roque em 07/05/2011
Reeditado em 11/09/2012
Código do texto: T2955481
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