Pagar mico ou cometer uma gafe?

Minha tia Nora é célebre na família pelas suas gafes; o importante é que ela se permite se divertir dando gargalhadas com os próprios erros cometidos. Quando o seu vizinho Kafunga morreu, de quem ela era amiga, assim como toda a família, ela foi ao velório de braços dados com o meu tio. Adentrou-se a casa olhando alto e procurando a mulher do falecido. Logo viu a viúva se acabando de tanto chorar e sendo consolada por outras amigas, parentes e aparentados. Minha tia abriu os braços e lhe deu um longo e comovido abraço e um beijo na face seguidos da frase, a seu ver, lenitiva: “meus parabéns, querida”. Não preciso descrever o ar de espanto da viúva, assim como de algumas pessoas que estando por perto ouviram tamanho impropério; isso sem falar da cara do meu tio. Coitado! Ele me disse que teve vontade de entrar no caixão do defunto, pois, embora já estivesse acostumado aos desarranjos verbais da esposa, ainda se pasmava com a sua “criatividade”. Mesmo assim ficou calado, disfarçando, olhando para os lados como se nada tivesse acontecido.

De outra feita, ela foi visitar uma amiga e, levou consigo duas sobrinhas. Foram muito bem recebidas e logo a dona casa lhes serviu, com muita recomendação, doce de leite vindo da fazenda. Coisa de primeira!

Na primeira colherada, a minha tia notou que o doce tinha um sabor de queimado, portanto, muito enjoativo; mesmo assim, vagarosamente, ela e as sobrinhas foram comendo e conversando.

Aproveitando que o telefone tocou na outra sala e a amiga levantou-se para atender, a minha tia rapidamente jogou o doce no que parecia ser um jardim de inverno com muitas plantas. Coitada! Ela não tinha notado que havia uma divisão de vidro e para desespero dela e das sobrinhas, o doce ficou grudado na vidraça. Tentaram limpar com os guardanapos, mas ficou pior, a parede de vidro ficou toda borrada.

Quando a amiga voltou, as três visitantes estavam de pé morrendo de vergonha, prontas para irem embora; não sabiam aonde enfiar a cara. Como desculpa, minha tia disse que tentou jogar fora devido um mosquito ter caído no doce. Claro que não colou...

Gafes ou micos como se diz hoje em dia, não é privilégio da minha tia.

Minha mãe, entre outras coisas, comprou no supermercado algumas latas de coca-cola. Já em casa, quando foi servir a uma visita notou que as latas eram de massa de tomate, contudo, vermelhinhas como as de Coca Cola.

Minha irmã, Luciene, após deixar o seu filho no colégio, saiu apressada e entrou no carro dizendo: vamos amor; o rapaz ao volante, a olhou espantado e respondeu gentilmente: para aonde? Ela então percebeu que tinha entrado no carro errado, quando olhou para fora viu seu marido se descabelando ao volante do seu carro, sem entender a sua atitude.

De outra feita, circulando e olhando as prateleiras do supermercado em companhia do marido, essa mesma irmã, distraiu-se e segurou a mão de um senhor que estava ao seu lado, pensando que estivesse segurando a mão do marido; em seguida saiu levando a tiracolo o respeitável senhor que nada entendia e, mesmo sobressaltado, a seguia como um carneirinho. Gentilmente o dito senhor sem nada dizer, conseguiu desvencilhar-se da destrambelhada moça ante o marido que permanecia estático com os olhos esbugalhados.

Pelo que se vê, é um mal de família.

Acho que não se deve explicar uma gafe, qualquer um com bom senso e um pouco de inteligência será capaz de entender o gesto absurdo e certamente sabe que não tivemos a intenção cometer.

Como diz o ditado: Errar é humano, mas se divertir com os próprios erros é divino.