Quando Eu Tinha 15 Anos

1995. Mais ou menos por aí. Eu tinha 15 anos. Um mero dia estava eu sentado em frente à TV, no canal da Rede Globo. Durante o intervalo de alguma coisa que passava à tarde, vejo a propaganda de uma banda a cantar umas músicas bacanas, diferentes do que eu já ouvia, com camisas xadrez, estilo Country pareciam. A propaganda anunciava: “Creedence Clearwater Revival – The Concert! À venda nas lojas pela Som Livre”.

Me lembro de ter chamado meu pai e acho que nesse mesmo dia ou no dia seguinte fomos até a cidade ao lado de Parapuã, a cidade de Osvaldo Cruz. Loja do Yuassa. Ao chegar lá ví o CD na prateleira. Meus olhos brilharam de alegria e curiosidade.

Naquela época eu ouvia muito rádios FM e fitas K7, que comprava de artistas ou eu mesmo as gravava, das rádios. Chegava à ligar e pedir música, no estilo disque-toque. Ah claro, tinha alguns discos de vinil, os Long Plays, que tenho e os ouço até hoje.

Deixe-me lembrar o que eu ouvia. Bom, música nacional, de Legião Urbana à Agepê, de Chitãozinho & Xororó à Ney Matogrosso, de Clara Nunes à Rap Brasil (eu só quéééro é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nascí...). Acho que já nascí eclético.

Confesso que, sem influência muito presencial ou marcante de alguém, eu, nessa época já tinha uma tendência e afinidade por músicas cantadas em Inglês, de artistas que iam do Heavy, Rock ao Dance, Techno. Sem me desfazer do som Brasuca 80´s e 90´s é claro, máximo respeito, sempre os ouvia também.

Quando comprei o CD do Creedence, eu já tinha em casa alguns LP´s de Dance internacional, o CD do Pink Floyd “The Division Bell” emprestado, o CD do RAP Brasil e muitos K7´s gravados, que iam de Metallica à Roxette, de Bryan Adams à Dire Straits. Muita coisa boa.

Dalí em diante foi uma enxurrada de músicas, estilos, culturas, mundos. De música oriental à andina, de música clássica à trash metal e por aí vai. Mas lá estavam eles, minha primeira grande paixão musical, o Creedence Clearwater Revival. Eu os ouvia todos os dias. Nessa época, um amigo meu da cidade era um dos poucos que tinham acesso à Internet, que era feita pela AOL. Os sites de busca eram o Cadê e o Alta Vista. Foi meu primeiro contato com o mundo virtual, e como ele era enorme, infinito! O que eu acessava e buscava? Claro que eram fotos, textos, letras, cifras, discografia e histórias do meu Creedence. Fui estudá-los. Estudava o Creedence e seu vocalista e líder John Fogerty.

Virei fã mesmo! Imprimí muita coisa, em impressoras matriciais e de vez em quando achava uma à tinta por aí. Como foi nessa época que comecei à tocar violão, fiz uma pasta só com letras e cifras deles. Na parede de meu quarto colei de tudo: autógrafos, fotos, notícias. Fiz uma prateleira de madeira na parede onde coloquei os 7 CD´s originais da discografia oficial, bem como os CD´s ao vivo e as coletâneas. Fiz uma espécie de altar, quando eu tinha 15 anos.

O tempo foi passando e eu fui mudando de estilos. Estilos vestir, de andar, de dançar, de cantar e tocar. O primeiro beijo. As festinhas ao som de Brian Adams e Guns N’ Roses, Erasure e RPM, The Cats Power & Galáxia Som, Engenheiros do Hawaii e Depeche Mode. Novas formas de ver o mundo, de pensar e de agir. Um universo musical e feminino à desbravar. Música e mulher sempre andaram juntos para mim. Tempos bons.

Cada vez mais eu ouvia e comprava de um tudo e de tudo um pouco. Esse lance de ouvir música e ver vídeos pela internet só veio em minha vida na época da universidade, depois de 2001, da odisséia no espaço, por aí, com o advento do MP3, MPEG, etc. Até então eu era um assíduo por CD´s, LP´s, K7´s e alguns VHS (pois não tínhamos em casa um vídeo cassete).

Onde eu quis chegar com essa história toda? Terça-Feira passada, 10 de Maio de 2011, eu com os meus quase 31 anos, ví o Mr. John Fogerty em minha frente, ao vivo e em cores, pela primeira vez no Brasil para fazer um show. Não sei descrever muito com palavras o que sentí, mas acho que foi um misto de nostalgia, emoções, risos e choros. Ah, e eu estava lúcido tá? Não queria estar ébrio e poder perder esse momento único. Um filme passou em minha cabeça. Varrí meus bancos de memória de quase 16 anos de Creedence & John em apenas um lapso de segundo, ao vê-lo adentrando-se o palco para cantar os seus clássicos.

Sim, o meu primeiro e grande ídolo musical. O cara que ví através de uma tela de tubo de raios catódicos, quando eu tinha 15 anos. O cara de camisa xadrez tocando um violão folk, de som mágico. O cara de botas de peão, o sertanejo, o caipira americano de Berkeley, Califórnia, um Geminiano como eu.

Obrigado estimado Mr. Fogerty pelo dia incrível que viví. Ah, e você continua cantando muito viu? E acho que até está tocando melhor, se é que posso dizer isso, pois é um exímio guitarrista. Sem contar também que você demonstrou gentileza, educação e muito bom humor com a platéia. Grande exemplo. Com quase 66 anos de idade você esbanja saúde. Quando eu tinha 15 anos o ví pela TV. Terça-Feira aos 30 anos o ví presencialmente em minha frente e disse, por telepatia: “Ei John, olha eu aquí! Lembra de mim? Eu crescí! E você ainda está na ativa, firme, forte, artista, humano e feliz”.

Samuel Carnero
Enviado por Samuel Carnero em 12/05/2011
Reeditado em 17/05/2011
Código do texto: T2965802
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