AS APARÊNCIAS ENGANAM

Marco Antonio, traveco assumido e engajado na luta contra o preconceito sexual, conhecido nos meios “GLS” como “Mafalda”, conversava animadamente com alguns dos seus pares no calçadão da Praça do Papa, Mangabeiras, altos da Avenida Afonso Pena em Bêagá, numa tarde ensolarada de sexta-feira. Faziam essa reunião informal sempre naquele dia da semana, antes do anoitecer, quando então desciam a avenida rumo ao centro da cidade, para enfrentar as paradas do “dia nacional da gandaia”, como batizaram a sexta-feira. Aí, meus amigos, saiam de baixo pois o bicho pegava mesmo! ...

No papo que rolava descontraído, um dos componentes do grupo, Rodrigo, a “Estela Maris”, saiu com uma novidade:-

“- Ah, meninas, descobri a maior. Homem com sapato grande, 44 pra cima, tem o pinto super-desenvolvido, sabem? A natureza favoreceu. Não tem erro, é só observar o tamanho do pisante. Quanto maior, melhor!...”

A “Mafalda” ficou ouriçada e resolveu tirar a história a limpo. Desceu para o centrão da cidade bem mais cedo do que as outras e postou-se na Praça Sete, bem defronte ao antigo Cine Brasil. Ficou ali só observando os passantes, quando notou um loirão todo engravatado, alto e parrudo, pasta 007 na mão direita, óculos “ray-ban”, calçando um estiloso cromo alemão número 48. O traveco seguiu o executivo bem de perto, parando junto com ele nas vitrines que expunham novidades, até que o mesmo entrou numa confeitaria famosa do pedaço e foi direto aos sanitários.

“Mafalda” não esperava por menos e emborcou de vez atrás do executivo no “WC”. O rapaz endireitou-se frente ao mictório, abriu o paletó, a braguilha, puxou a estrovenga e começou a urinar em profusão, emitindo até suspiros de alívio no ato. O traveco, ao seu lado, baixinho que era, tinha dificuldades em ver o cacete do executivo. Esticava o pescoço do lado direito e ... nada! Passava pro lado esquerdo, repetia o gesto e ... nada! O paletó aberto do cara impedia a visão total e panorâmica que “Mafalda” queria. Ela foi ficando agoniada, até que cutucou o sujeito e perguntou:-

“- Oi, loirão, que horas são, por gentileza? ...” – o macho virou-se de frente pro traveco, paletó aberto, rola à mostra por completo e respondeu:-

“- São dezoito e trinta horas, por quê? ...”

“- A hora pode estar certa mas esse sapato não é seu, tá ligado?! ...” – devolveu na bucha a irritada “Mafalda”, girando nos calcanhares e buscando o lusco-fusco da Avenida Afonso Pena.

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B.Hte., 12/05/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 12/05/2011
Reeditado em 07/08/2011
Código do texto: T2966221
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