Nossos Natais

Nosso natal era legal. Passávamos o dia ansiosos, pela chegada do Papai Noel, que era o filho de um vizinho. À meia noite, íamos à missa do galo. Na manhã seguinte, a romaria. Era costume as crianças irem à casa dos padrinhos pegarem "os pacotinhos". Os presentes de natal. Era um fervilhar de crianças felizes pela rua, umas mostrando às outras os presentes recebidos. Havia uma alegria inocente no ar. Não havia essa competitividade que há hoje. Ninguém tinha coleções de carrinhos, nem de bonecas.

Um dos natais mais lindos da minha infância foi aquele em que ganhei minha primeira e única boneca. Era de pano, feita pela madrinha, irmã de meu pai. Claro que ela fez duas. Uma para minha prima, para não haver brigas. Eu devia estar com seis para 7 anos.

No ano seguinte, mudamos de cidade e, até hoje não entendi porque, mas não pude levar minha boneca. Deixei-a sob os cuidados da minha prima, que jurou que cuidaria dela, como se dela fosse. Alguns meses depois, viemos em visita e matei a saudade da boneca e dos familiares. A cidade em que fôramos morar, era longe demais para visitas freqüentes. Na época, levávamos mais de 10 horas de viagem. Moramos lá, quase dois anos. Quando retornamos, recebi minha boneca de pano de volta. Inteirinha, limpinha, sem um rasgo sequer. Minha prima tinha sido uma mãe adotiva maravilhosa. Em parte, porque nos amávamos, éramos as únicas amigas que tínhamos. E, por outro lado, ela temia que não cuidando do presente que Papai Noel me dera, ele não traria mais nada para ela.

Apesar dessa singeleza, já naquela época, o natal era o dia de vir o Papai Noel. O verdadeiro significado me veio com o passar do tempo, nas aulas de catecismo. Acho que nos tempos atuais, mais que nunca, esse significado se perdeu dentro dos grandes shopings, nas propagandas na televisão. A magia do Natal não está nas luzes que brilham na fachada das lojas, nem nas músicas natalinas que soam por toda parte, mas nos presentes que estão dentro delas.