Foto de Feitosa dos Santos - Paris

ENVELHECER COM PRAZER?


Outro dia presenciei um bate papo, entre duas pessoas que falavam sobre o envelhecimento. Num dado instante ouço a seguinte pérola: – estou envelhecendo com saúde e isto para mim é um prazer. E de imediato me perguntei: - há como envelhecer com prazer? Que prazer se tem ao envelhecer? Sinceramente não vejo como. A sorte de se envelhecer sem doenças: dores, tonteiras, pouca visão; é benéfico para o ser humano; dai a sentir prazer vai uma grande distância.
A metamorfose que sofre o ser humano ao envelhecer é peculiar; é única ao humano. Nenhum outro animal, que eu saiba, sofre tamanha modificação; de pele, de força, de vigor, aparência e outras mais.
A pessoa humana precisa se reinventar, para trilhar as veredas da velhice.
Quem nunca tomou remédios, passa a tomar aos montes, incentivado por médicos e laboratórios, no afã de usurpar o pequeno valor da aposentadoria do idoso. Quem nunca “malhou”, passa a malhar em academias ou ao ar livre, beneficiados por programas de governos municipais, patrocinado com o dinheiro dos nossos impostos, ainda bem, pelo menos isso.
O idoso precisa rever o local onde mora, melhorar o ambiente, jogar moveis fora, alargar portas, suprimir escadas, baixar os armários, retirar os tapetes, evitar aparelhos cortantes e por ai vai.
Que prazer há em tudo isso? Ou alguém está blefando ou eu não consigo alcançar a essência prazerosa de se envelhecer.
Qual é o prazer de não se degustar de uma deliciosa feijoada? Que prazer há em não comer uma maravilhosa fatia de pudim de leite condensado? Que prazer se pode ter em não curtir uma maravilhosa praia em um final de semana, após cinco dias de exaustivos trabalhos?
Você não pode fazer isso ou aquilo; é preciso fazer isso ou aquilo, não pode comer esta ou aquela comida, precisa tomar chá e não café, não pode tomar cerveja, mas pode tomar um cálice de vinho tinto seco, cuidado com o seu diabetes.
Pelo amor de Deus, dá um tempo, larga do meu pé. Se isto é prazer é preferível não tê-lo.
Acredito eu, não haver ninguém em sã consciência, que tenha prazer em envelhecer, caso contrário, eu não teria percebido naquela face brilhante, os sinais do verdadeiro prazer, (marcas de bisturi); palavras, simplesmente palavras, a boca diz o que o cérebro não sente.
Assim deixo o meu apelo a todos os postulantes, quem tiver a tal receita do envelhecimento com prazer, por favor, não me passe, para mim essa receita é uma tremenda furada.
 
                      Rio, 15/05/2011                         
                    Feitosa dos Santos