Abrir-se

Nem sempre conseguimos nos expressar, falar de tudo o que há dentro do nosso ser. O dia todo e boa parte da noite, somos envolvidos por incontáveis tipos de informações. Algumas digerimos com rapidez, outras com mais dificuldades, e outras tantas se acumulam. O normal seria absorver as novidades e difundí-las, ou discutí-las. Ideal mesmo é termos um constante senso crítico, onde analizamos e diferenciamos o que estamos recebendo. Mas parece que as coisas não são bem assim.

Nem sempre conseguimos sair do nosso sono profundo, da nossa estagnação. Vivemos cercados por ilusões e vamos sendo manipulados, e a nossa visão da verdade vai sendo ofuscada. Não temos como e nem a quem expressar o nosso pensar, a nossa interpretação e a nossa aceitação ou mesmo a nossa negação sobre tudo o que chega até nós.

Ainda mais difícil é expressar-se sobre si próprio. Suas vontades, desejos e sonhos, o corpo e a intimidade. Por natureza, a necessidade de abrir o coração a um outro coração, é o que o ser humano tem como sendo o seu milagre caseiro, o seu milagre medicinal. Dividir o que guarda a alma, os resquícios das experiências passadas e atuais, é a cura para muitos problemas.

Além da dúvida perene que paira sobre nosso ser, em relação a vida e a morte, os risos e os choros, a saúde e as doenças, o nascer e o crescer, são para nós ainda mais perturbadoras, as nossas múltiplas faces. As faces que inventamos, por medo de nos abrirmos ao mundo, tal qual somos de fato, tal qual é a nossa real essência.

Falar que muitas vezes pensamos como fanáticos...que geramos sentimentos como de um psicopáta...que nossa carne clama pelo prazer dos libertinos...que nossa mente produz a ilusão do luxo, as custas de atos de corrupção...não é de maneira alguma, algo fácil de expressar.

Mesmo porque temos a necessidade, a humana necessidade, de esconder, de ocultar o nosso EU INTERIOR IMPERFEITO.

Os grandes filósofos, liberaram-se das amarras do medo de serem condenados, por serem simplesmente, os próprios desbravadores dos seus caminhos. Soltaram o verbo que achavam angustiante proferir. Dividiram entre si e deixaram como legado, suas críticas e suas óticas visionárias.

Mesmo que muitos digam conseguir expressar-se, em sua plena autenticidade, em seu verdadeiro EU, sabe-se que muitos segredos, se revelados, podem vir a ferir nossa integridade. E a ação humana ainda é uma ação mais condenatória que compreensiva.

O mundo atual é fortemente influenciado, pela ação das redes sociais, e estas fazem parte de nossa vida. E assim esses mecanismos, vão nos forçando a criar falsos EUS. E esses vão agindo em nós, que vamos fingindo, representando inúmeros papéis, e sem nos dar conta, vamos nos fechando em nós mesmos, em nós verdadeiros.

Quando cai a ficha, percebemo-nos renunciando a si próprio, numa expansão da abnegação de nossa essência única...ímpar...

É difícil, mas necessário dispor do outro, como um coadjuvante, na história de nossa vida. Um coadjuvante que se harmonize com a sua verdade, sem acusações e sem julgamentos. Uma harmonia que através da aceitação, crie equilíbrio existencial. Equilíbrio esse, baseado no entendimento das imperfeições que carregamos, das dificuldades de evolução que se passa conosco.

Expressar através de palavras e ações que se é capaz de dissolver, polaridades e paradoxos, é necessário revelar seu riso, quando consciente, de que as opiniões divergem-se muito entre si, por sermos seres de dimensões diferentes, embora sejamos todos iguais.

Há na igualdade muita diferença. A diferença é o legado deixado a nós por Deus. Somos todos receitas com quantidades e ingredientes diferentes. Muitas vezes precisamos de conexões com outros para por para fora, o que se passa dentro do nosso corpo e mente. Divisão de energias. Divisão de sabedoria. Ouvir. Falar. Calar. Não somos ilhas. Ao nosso redor existem seres em movimento constante, que como nós, também estão a receber, e receber e conceber novidades que precisam ser exploradas, estudadas, questionadas.

Nem sempre conseguimos expressar nossa opinião, mas ela é muito importante para a evolução humana. Fazer menos coisas, dando ênfase a coisas mais importantes, pode nos ajudar a viver mais. Expressar o que sentimos, o que somos e desejamos com os outros, pode abrir portas para um mundo mais humano. Quanto mais próximos e abertos aos outros tanto mais verdadeiras serão nossas relações, e tão mais e autênticos seremos. A autenticidade nos torna menos imperfeitos e mais racionais.