Amorfo

Amorfo

Hoje vou me fantasiar de mim mesmo, colocarei a fisionomia que esperam que eu tenha, o soriso que julgam que possuo e a postura que gostaria de ter.

Já que não sei quem sou, dentro das minhas incoerências e incongruências, eterna busca de algo que não sei o que é e de um caminho que sequer sei se existe ou tenho que criar, serei o modelo mais adequado ao ambiente em que estou.

Não mais opinarei, pois não tenho mais forças para ser diferente, nem coragem para enfrentar sozinho legiões de oponentes, prefiro ser mais um dentre tantos iguais, soldados de bandeiras que não crêem, se identificam ou sequer questionam, mercenários lutando por sua sobrevivência, sem ideais,sem pátria, sem emoção, guerreiros da conveniência, apenas e meramente mais um na multidão.

Não tenho mais cacife para bancar meus sonhos, eles se perderam em batalhas sangrentas, destruídos ou esquartejados em tantos pedaços que nunca mais se reconstituirão, agonizando no solo desta terra que nada mais é que céu caído e sem esperança , maculam o solo e se enveredam pelas raízes subterrâneas tentando sobreviver e esperando uma eventual primavera para gerarem frutos e quem sabe uma flor ...

Aqui, comigo, sempre faz frio e é escuro, mas é melhor assim, na penumbra tudo se mascara e não preciso encarar meus olhos num espelho revelador e dolorido.

Com máscaras sou mais forte, sou quem quero ou preciso ser, não aquele fraco que chora do solidão ou aquele tolo idealista que sofre pelos rumos do mundo, pelo desamor e pela incompreensão.

Ruim mesmo é só tirar todas as máscaras e me deparar com um ser amorfo que morre aos poucos sem sequer ter mais identidade...

Leonardo Andrade