A certeza da dúvida

Abriu a porta e esqueceu as dúvidas certas, haviam certezas tão cheias de dúvidas para se preocupar, caminhou pela sarjeta com os olhos estatelados nas horas, não haveria muito tempo mais.

Lembrou das cantigas que só ela sabia, das noites em que a tirou da cama; precisava de alguém para conversar, sentiu um arrepio de saudades antecipadas.

Quanto tempo ele guardava dentro de si, e ela, quanto tempo ela ainda teceria lembranças do seu homem, que mesmo longe ainda pairava por tudo ao seu redor.

O corpo esquálido do seu homem que resistiu por décadas, sorria no retrato, parecia ainda chamar por ela, como sempre. Só ela, seu mundo, ele reconhecia.

Perdido em mil indagações, não sabia mais chorar, secara talvez, ele tinha ido embora, e ela ali na sua frente, morria um pouco todo dia, consumida pelo mesmo mal. O que crescia dentro dele? Teria a mesma herança?

Não falava. Pensava somente e amortecia a mente para não mais sentir as dores que não ousava falar pra ninguém.

Fazia silêncio sobre os sentimentos revirados. As dúvidas que insistiam em acordá-lo precisavam se calar, e ele fugia das lágrimas etílicas pra se conformar.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 01/07/2005
Código do texto: T29786
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