O belo, normal ou feio
Águida Hettwer
 
  
Apenas como pano de fundo para este tema, usarei o filme “O homem elefante”, baseado na história real de Josepf Carey Merrick (1862-1890). Cidadão inglês, ficou conhecido como “Homem Elefante” por causa da sua aparência física diagnosticada por um defeito congênito. Com o corpo 90% deformado, causava espanto, medo e repugnação.
 
 Vitima de oportunistas, maltratado, era exibido num circo de aberrações como a “versão mais degradante do ser humano”. Descoberto pelo doutor Treves, leva-o para um hospital no intuito de estudá-lo. Ali, Merrick se mostra um homem, um ser humano, inteligênte e sensível.
 
O filme nos remete a pensar nas questões humanistas, de como vemos o “outro”, que paradoxo usamos para definir o que é belo, normal, feio ou repugnante. Geralmente tratamos com indiferença, repugnância aqueles onde a natureza não foi tão generosa esteticamente, temos uma tendencia de colocar rôtulos nos outros, como se fossem meras embalagens descartáveis. E de “coisificar” o ser humano, degradando a sua integridade fisica, moral, emocional e intelectual. Fazemos vista grossa, discurso moralista, mergulhados em hipocresia, quando deparamos com certas situações. E há quem não perde a oportunidade de explorar e fazer sensacionalismo com a desgraça alheia para se auto-promover.
 
O ser humano vive em busca de formular sua identidade com o mundo e os outros seres, construindo seus valores, eticos e morais, entretanto, sofremos influências do meio, somos “repaginados” pela mídia, que dita padrões de beleza, modo de pensar e agir, como se vestir, que esmalte está na moda, como se fossemos robotizados e condenados a viver com este padrão que nos empunham, nesse mundo onde o homem engatinha ainda para se encontrar verdadeiramente. Vivendo assim uma vida inautêntica, regada a futilidades e coisas perecíveis que em nada constroi e edificam sua postura diante da vida.
 
Há necessidade de olhar o outro ser humano, como ser humano. Muito além das aparências, abandonar a retórica ensaiada e partir para a prática de se colocar no lugar do outro. Quem sabe assim encontraremos a fonte da felicidade, onde tanto almejamos, por que para nós mesmos, queremos o melhor, o mais confortável, o mais belo, sendo um espelho refletido para o semelhante, viveremos enfim na plenitude da liberdade e igualdade, dignidade para todos.
 
E humanidade, não remete a trocados,esmolas e caridade e sim uma bandeira hasteada no pátio da alma, onde há luta constante para uma sociedade consciente, feitas de homens e mulheres de consciencia clara e objetiva, onde se coloca filhos no mundo, se tiver condições plenas de sustentá-los. Pois jogá-los no lixo, não anulam vossas responsabilidades comos pais. Como sociedade pairar um olhar atento ao semelhante, além dos adjetivos de belo, feio, negro, ignorante, bem afeiçoado, normal.

Entender que pessoas são singulares, subjetivas, que não há necessidade de padronizar em massa. Fazer uso da ética, cultuando ações coerentes, o que eu não quero pra mim, não desejo para os outros, respeitando limites, saindo de trás da porta, da posição de “coitadinho”, vendo a realidade nua e crua a sua volta, destrancafiando a mente, para receber o “outro” como a sí mesmo.Independente de credo, orientação sexual, funções exercidas ou estabelecidas, lembrando que para o amor não há limites.
 
O que falta para o ser humano, ser feliz e ser livre?-É desprover-se, despojar-se de conceitos e adjetivos, promovendo e vivendo com amor e por amor. Aí sim, viveremos num mundo mais justo e mais humano para todos.
 
                                                                         20/05/2011