O sério e o sisudo

Atribui-se ao ex-presidente Jânio Quadros, não sei se verdade, a respeito do que achava ele do General Giesel, a seguinte frase: “um homem sisudo, que se pensava sério”. Certamente tinha ele suas razões para assim se expressar. Como não conheço as pessoas em um nível que assim também possa manifestar-me, prefiro aceitá-las como sisudas, porém sérias. Talvez o dito “Muito riso, pouco siso”, soe um tanto quanto preconceituoso. A meu ver, não cabe a generalização. Reservo-me o direito de não citar nomes, mas exemplos há e são muitos. Nos dicionários encontramos essas palavras como tendo, praticamente, o mesmo significado. Algumas definições para “sério” seriam: sensato; positivo; importante; pontual; cumpridor; metódico; circunspeto; que não ri. Praticamente os mesmos adjetivos atribuídos a sisudo. A sabedoria popular tratou, entretanto, de diferencia-los, como se depreende da declaração acima, atribuída ao Sr. Jânio Quadros, reconhecidamente um versado na gramática portuguesa. Assim, o sisudo ficou mais caracterizado como alguém fechado, carrancudo, não dado ao riso. Deduz-se, então, que alguém sisudo, não seja, necessariamente, alguém sério. Muitos se escondem por trás de sua sisudez, como alternativa para impor uma certa autoridade ou esconder uma insegurança. Comportamento muito encontradiço em alguns administradores. Procuram manter uma certa distância de seus subordinados, tratando-os com o maior formalismo possível. Geralmente são antipáticos, muito mais dado à ordens do que ao diálogo. Isso não quer dizer, necessariamente, que alguém sisudo, não seja sério. Por outro lado, uma pessoa de temperamento espontâneo, alegre, extrovertida, não deixa, por isso, de ser séria. Julgar alguém assim é puro preconceito. Lembro-me, particularmente, que dado à minha natureza expansiva, já fui vítima disso quando questionado sobre a forma como me relacionava com os meus subordinados, e por isso mesmo, na visão de alguns, não teria eu autoridade sobre eles, e por conseguinte, não servia para chefiar. Fiz questão de frisar que tínhamos a hora do “ôba”, da descontração, e a hora do “êpa”, ou seja, o momento da cobrança e do respeito a hierarquia, quando não me furtava em exercê-la. Daí o excelente ambiente de trabalho e os significativos resultados obtidos, claramente observados. Visto por este ângulo, sisudo não é sinônimo de sério nem sério de sisudo. O sério, por sua vez, é o sério. Não precisa de máscaras nem estereótipos. Ou seja, afirma-se por si só. Por isso mesmo os extremos devem ser evitados: o sisudo, se possível, melhorar a sua aparência carrancuda. Demonstrar que por trás de sua sisudez existe uma pessoa realmente séria. Um pouco de riso faz muito bem, ao corpo e a alma, dizem os especialistas. O sério não precisa mudar nada: só continuar sério. Aos exageradamente risonhos, uma reflexão sobre o dito popular acima. Afinal o que importa mesmo é que sisudos, sérios ou assemelhados, sejam verdadeiros, autênticos, reais. Não somos iguais. As diferenças devem ser respeitadas. No mais, o que conta mesmo, é a aceitação de como cada um é.