Sobre bancos e escolas

Ainda precisamos muito dos bancos convencionais e não poucas vezes recorremos aos seus serviços. Refiro-me àquelas tarefas que não se fazem no conforto de nossas casas, como a impressão instantânea de cheques ou mesmo depósitos que nos levam inevitavelmente aos caixas eletrônicos ou aos poucos funcionários que sobraram nas agências. A informática sugou muitos empregos e com eles muito do calor humano no atendimento aos usuários. Há alguns anos eram comuns as cadernetas em que o funcionário anotava de próprio punho o saldo do cliente. Hoje a máquina faz tudo, e mesmo os usuários mais humildes acabaram tendo de se acostumar com as senhas e a manipulação de moderníssimas máquinas... Evolução dos tempos!

Essas catedrais do capital enfeitam as cidades com suas edificações luxuosas. À sua entrada, seguranças e portas giratórias protegem o capital contra o desrespeito que grassa em tempos difíceis. Pessoas humildes por ali entram juntamente com titulares de polpudas contas, sinalizando que todos somos iguais nos templos do capital. Pura ilusão de ótica! Lá dentro, há placas e placas indicando gerências e atendimendos especiais àqueles cujas contas agradam aos banqueiros privados e públicos.

Ah, sim, nem tudo é desigual nesse mundo desigual! O conforto do ar-condicionado é distribuído a todos. Ah! Se pudessem fatiá-lo! Todos também usufruem das máquinas eletrônicas e têm direito aos bancos confortáveis de espera, embora para alguns não haja espera. Lembra-me que um jornal certa feita noticiou um deputado recém-eleito já vivenciando precocemente o prestígio da futura função.Um gerente o tirara da fila (onde estavam seus eleitores, presumo!) e lhe dera atendimento especial. E lá se foi o homem, certamente certo de que agora era uma pessoa diferente!

Vejo a sofisticação dos computadores do sistema financeiro e vejo que o computador sequer chegou a muitas escolas! Vejo que, em muitas aonde chegou, ainda não é usado com seu potencial integral, inviabilizando, por exemplo, o acesso à Internet.

Vejo os bancos dos bancos e me recordo dos bancos das escolas. Anos a fio, escrevendo em quadros e contribuindo singelamente para a formação de jovens, pude acompanhar o sacrifício extremado de administradores escolares para adquirir jogos de carteiras novos e melhorar o padrão estético das salas de aula. No Instituto Estadual de Educação em Juiz de Fora, o seu José tinha uma oficina, onde consertava as carteiras e as repunha para o uso. Mas eram carteiras antigas, surradas... Os alunos mereciam carteiras novas. Certa feita, a administração atuante de Antônio Detoni Filho reformou o prédio e lhe deu mobiliário novo. Tudo, tudo, com muito sacrifício!

As catedrais do saber se constroem não poucas vezes com ajuda da comunidade escolar envolvida, sempre disposta a participar de festas e quermesses. E é tão bom ver a escola limpa e bonita!

É preciso sempre, entretanto, conscientizar a comunidade discente de que a escola é um bem comum e, portanto, precisa ser zelada por todos. Entristece ver através da televisão escolas pichadas e depredadas por vândalos que moram muitas vezes em suas imediações! Caberia ao poder público zelar por esses templos como faz com as catedrais do capital...

É importante, também, que no ambiente escolar todos estejamos envolvidos nesse processo permanente de conscientizar os alunos da importância de preservar o estabelecimento em que eles estão sendo educados. Em Juiz de Fora, o Colégio Técnico Universitário é exemplo de uma experiência exitosa nesse sentido. A instituição, pertencente à UFJF, possui um campus isolado, inaugurado há seis anos. As instalações continuam novas, e raras vezes se veem escritos nas carteiras...A cada início de ano letivo, uma equipe de professores é encarregada de apresentar o colégio, seu funcionamento e enfatizar a importância da preservação de seu patrimônio. E os professores como um todo levantam a todo momento a bandeira do respeito às instalações... É público, é de todos!

Estamos, sim, longe do tempo em que a sociedade vai se deslumbrar com o requinte de nossas escolas. Mas podemos, certamente, estar muito próximos de um tempo em que escolas públicas limpas, pintadas, sem pichações e com mobiliário conservado enfeitem, ainda que na sua simplicidade, nossas vilas, nossos bairros, nossas cidades. Depende do poder público, depende também de nós...

Quem sabe, ainda um dia, as escolas públicas, no coração das cidades, possam ser confundidas com bancos! Esse será um tempo em que, mercê do destino e do esforço, um estudante de escola pública ascendeu na vida, e teve voz no Governo, e olhou pra trás,e viu sua simples escolinha simples, e edificou suntuosas catedrais do saber!