Constrangimentos da infância II

Desta vez tive sim aquela sensação de estalo no ouvido e o frio percorreu a minha espinha...mas fiz duas descobertas. A primeira é de que minhas reações variam de acordo com intensidade de meu desejo de me tornar um avestruz. A outra descoberta foi de que meu corpo, ao descobrir que meu cérebro está confuso, reage por si mesmo e faz coisas involuntárias, como girar em volta de si mesmo...

Eu havia comprado um arquivo de pastas suspensas para organizar aquele volume absurdo de documentos e papéis que conseguimos acumular. Como minhas férias estavam próximas de terminar e eu havia determinado que ao voltar a trabalhar os documentos ficariam organizados, solicitei à loja onde comprei o arquivo que me fizesse a entrega o mais breve possível, o que gentilmente foi atendido. Na mesma tarde ouvi a campainha tocar. Parou um caminhão na porta de minha casa e um homem chamou. Nesse momento meu filho de 4 anos e 4 meses correu para a janela da sala. O homem tinha aproximadamente 40 anos, bem aparentado, porém, em decorrência de um dia de trabalho agitado, estava com o uniforme todo amarrotado, a camisa abotoada de maneira incorreta, lembrando o Didi dos Trapalhões, estava com uma parte dela para dentro, a outra para fora da calça e absolutamente descabelado.

Lhe disse que chamaria meu marido para ajudá-lo, mas ele rebateu dizendo que o arquivo era muito leve, então não havia necessidade. Abri o portão e ele entrou, primeiramente para observar o exato local onde colocaríamos o móvel.

Ao entrar em casa, meu filho, que estava sentado no sofá, olhou para ele, arregalou os olhos e, estupefato, não desviava os olhos do homem. Nesse momento, senti que minha cor começava a alternar para bege. Meu filho levou as mãos à boca e disse em alto e bom som:

- Mãe do céu, que homem feio é esse ?!