Os dias nublados

Nesse dia-a-dia louco eu tinha esquecido de como são bons os dias nublados. Tanto tempo exaltando o Sol, sua energia, sua força. Mas a funcionalidade dessa vida mecânica tem me afetado, e me deixado triste.

Tal sentimento, sem alívio, descrito em longas horas sentado frente ao computador. E o dia no nublado, frio, como geralmente são em Abril, trouxeram para mim memórias das manhãs em que eu sentava no chão, vendo tevê, sem ter porquê nem o que fazer.

Não que seja certo ficar buscando pelos dias de infância, os costumes de menino. Mas os sentimentos, os sabores, eles devem ser reaprendidos, e reproduzidos. Quando me dei conta que o dia estava nublado, senti, por um ínfimo instante aquele cheirinho da terra molhada, e a alegria gratuita que me dava poder brincar na estrada de areia, fazendo desenhos com um graveto, cavando com as unhas. Não dá mais para fazer com fazia antes, não dá mais para molhar o calção na terra molhada, para entupir as unhas de areia, para desenhar com os gravetos.

Mas os sentimentos ainda estão vivos em mim. Sinto eles aqui, guardados. E a cada vez que vejo, nas ruas, nas praças, as crianças de agora, lembro de como era para mim, e como é agora.

A diferença entre felicidade e e uma vida ordinária está na fina linda que nos liga aos sentimentos de infância, aos conhecimentos de faz de conta, às suposições sem fundamento. Um olhar apaixonado por tudo, que a cada dia redescobria tudo. E quando você olha para a tevê, e já não sente mais aquele friozinho na barriga por ver o batman, seja em dia nublado ou ensolarado, você pode notar que está se tornando indiferente a você mesmo. A indiferença que o afasta de quem você é.

É de certa forma tão insensato dizermos que somos felizes sem esses sentimentos, é um pensamento sem base. Quando dos dias ruins, lembramos, com os olhos marejados em lágrimas, os dias nublados, em que a brincadeira era escassa, mas que sempre tinha um cobertor, um travesseiro, um acampamento, um cavalo. A imaginação criava uma razão nova, uma lógica nova, e o coração que chorava, em 2 minutos voltava a rir, porque tudo era sempre diferente, era sempre novo.

Helinho
Enviado por Helinho em 22/05/2011
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