VIVER?!...



A complexidade quase caótica deste mundo é real
A vida social é veloz e difícil de ser entendida.
 
No geral me sinto como que um estagiário, tendo que viver uma realidade para a qual não fui preparado mentalmente, e tendo assim que experimentar uma avalanche de sentimentos e sensações para as quais não fui, inteiramente, biologicamente estruturado.
 
Mas e daí? Não adianta reclamar ou se esconder da realidade avassaladora que se nos impõe. Somos tornados vivos pela comunhão de nossos pais, e só nos resta aproveitar, como possível, todas as oportunidades para aprender a viver.
 
Se viver não é fácil, a morte não nos leva a lugar algum. Entendo que entre o nada que nos espera e a chance de viver, devemos naturalmente escolher a segunda, posto que a primeira é uma escolha já feita pela biologia quando selecionou a reprodução sexuada. Viver deve ser preferível à morte, ou pelo menos, no geral, não percebo muitos de nós buscando a morte, e sim visualizo vários de nós lutando contra tudo e contra todos para viver.
 
E entendo que deva ser assim mesmo. A vida é o auge da biologia, mais do que isto, a vida é, para mim, o auge da imanência, da física e do existir. A vida é o truque maior que nos permite aqui estar vendo, pensando e discutindo a essência da própria vida, e mais ainda, nos permite ser e experimentar o sentido totalmente passageiro deste viver.
 
Agora, viver para que? Porque viver? E como viver?
Perguntas óbvias e simples, de respostas múltiplas e complexas.
 
Viver para que?
Para eternizar o brilho imanente da própria vida. Viver para fazer da vida, o milagre maior que fez da química uma biologia, o trunfo que nos faz participar e conviver com a dinâmica desta realidade. Viver para tentar, em uma única vida, ajudar a própria vida a ser mais digna, mais bela, e no nosso caso, mais humana. Viver enfim para, dentro da reprodução sincera, perpetuar a própria vida e assim também um pouco de nós.
 
Porque viver?
Viver porque é necessário que vivamos pela honra e pela glória da própria vida, este momento mágico que no presente se faz biologicamente imanente, e no nosso caso tenta se fazer mental e racionalmente vivo. Viver porque é a única opção à morte eterna, ao nada absoluto de nossa existência. Viver porque muitos necessitam de nossa força e coragem na luta por um mundo mais justo, digno e humanamente positivo. Viver porque a vida é o que nos permite ser únicos em nossa multiplicidade de seres e em nossa complexidade mental. Viver enfim porque somente pela vida podemos construir, ou pelo menos tentar construir, um mundo digno onde a vida possa prosperar, em toda a sua essência, beleza, variedade e complexidade.
 
Como viver?
Simplesmente vivendo e aprendendo com nossos erros, com os erros dos outros, por tentativas sucessivas, por experimentação e por percepção. Viver como pudermos, mas sem abrir mão de nossa capacidade mental de racionalizar, de analisar criticamente e de construir. Viver buscando ser parceiros de todas as vidas e em especial buscando ser irmãos de nossos co-irmãos em espécie.
 
Mesmo sendo a realidade de nosso mundo caótica e complexa, não me parece digno da força do viver nos entregarmos ao ostracismo, a morte ou a ausência de nós mesmos. Somos responsáveis pelo mundo em que vivemos. Omitirmos-nos é sinal de máxima fraqueza. Somos um pouco de tudo, mas somos muito daquilo que sinceramente desejamos ser. Então abramos nossa mente, exponhamos nosso ser, e brindemos à vida, mergulhando de corpo e alma na exuberante e difícil arte de viver, não apenas por nós mesmos, ou pelos nossos filhos e amigos, mas principalmente por aqueles que mais de nós necessitam, por aqueles que abandonados ao ostracismo vivente moram e vivem à margem deste mundo que ousamos mentirosamente chamar de social.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 23/05/2011
Código do texto: T2988478
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