Araripe, o poeta nu

De onde conheço Araripe? Daqui, de Aracaju, inclusive fomos vizinhos e somos integrantes de um grupo de apoio cultural. Ao que sei, carioca de nascimento e sergipano de coração, Araripe é figura conhecida em nosso meio sociocultural. Ativo, participante, crítico, apresentador de programa cult em emissora de TV, além de ser uma figura carismática.

Encontro-me em pecado por não haver me dedicado a produzir um texto sobre a obra poética de Araripe Coutinho. Entretanto, muitos dos seus poemas já li e vejo neles o traço da modernidade, da luta de um poeta que está de olhos centrados na movimentação do ser humano. A fisionomia do ser humano em sua profundidade psicológica, em sua inquietude, é a tônica deste poeta sobre quem escrevo este texto.

Agora tornou-se mais que obrigação falar dele, pois repentinamente virou celebridade, personalidade midiática nacional. Está mesmo bombando em todos os meios de comunicação. Não pela sua obra literária, como ele tem questionado, mas porque teve a ideia de, em algum dia, cinzento ou de céu azul aracajuano, fazer um ensaio fotográfico nada convencional aos olhos da ainda tradicional família sergipana. Aliás, pelo sucesso obtido, não somente a sergipana, mas a nacional e, mundial _ do que logo teremos notícias.

Madona foi irreverente com simbologias e Araripe resolveu ser diferente dentro de um órgão público, patrimônio da cultura sergipana. E são os seus companheiros de jornada a estranharem o fato de o poeta ter ficado nu no palácio. Agora tenho certeza, ele é mesmo poeta, pois somente poetas seriam capazes de tais e inusitadas coisas. Isto não quer dizer que aprovo ou desaprovo o que ele ousou fazer. Depois de um jogador de futebol ter sido agraciado com a medalha Machado de Assis (com todo o respeito que merece o esportista), vejo que tudo mesmo pode ser e acontecer. E eu quero um prêmio da FIFA por ser poeta.

A questão do legal ou ilegal é com a senhora Justiça e eu não tenho fundamentos para nisto me envolver. Falo também como poeta e crente fervorosa de que a arte tudo pode, o que é bem diferente da Lei, que também tudo pode, mas com outra interpretação e de outra forma. Está feito e seja o que Deus quiser, pois cada um se responsabiliza pelos seus atos.

Araripe levou ao pé da letra a metáfora do poeta nu e criou uma metáfora da modernidade, da irreverência, dos novos conceitos e transgressões de padrões estabelecidos. Novamente digo que não estou me posicionando contra e nem a favor. Até diria, por outro prisma, que a moeda tem sempre dois lados. E o poeta carioca-sergipano sai do ostracismo a que são jogados os intelectuais e entra para a história da fama, nem que seja por alguns minutos.

taniameneses
Enviado por taniameneses em 25/05/2011
Reeditado em 25/05/2011
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