MENINA LEVADA

Ela era uma menina. Uns sete, oito anos no máximo. Uma menina levada. Assim diziam dela. Mas ela não se via assim. Se via apenas uma aprendiz, uma curiosa.

Tudo queria ver, tudo queria saber e assim, não tolhia em nada os seus impulsos rumo a satisfação de suas necessidades.

Mesmo que isso significasse, revirar gavetas, armar mirabolantes escaladas rumo às alturas dos armários e prateleiras da casa para ver o que lá se escondia, o que lá tinha que poderia fazer sentido para sua tenra e mal definida curiosidade.

Por isso diziam que era levada, precisava estar vigiada o tempo todo. A qualquer descuido, lá estava ela aprontando, caindo, desarrumando, levando broncas e... apanhava.

Às vezes ela apanhava. Ainda assim, nada fazia para conter seus impulsos rumo à satisfação de suas curiosidades.

Sua casa ficava no fundo. A rua era para ela o centro dos mistérios.

As crianças gritavam na rua.

Soltavam pipa, jogavam bolinha de gude, taco, brincavam de pega-pega, como-está-fica, conversavam assuntos proibidos.

E ela não podia estar lá.

Apenas ficava ouvindo o burburinho da rua e querendo fazer parte daquilo tudo. Mas ela era uma menina danada.

Num descuido, e ela fugia, ia pra rua, levava a irmã junto.

Se divertia, esquecia da vida e da hora. A mãe ia buscar.

Muitas vezes já começava apanhar de chinelo dali mesmo da rua. Passava uns tempos e ela fugia de novo. E tudo acontecia do mesmo jeito.

Certa vez a mãe foi buscar com cara de bons amigos. Não pegou chinelo na mão, não brigou, apenas foram entrando pelo corredor que dava para a o quintal da casa.

A irmã correu para dentro, a mãe foi entrando, e ela desconfiada, ficou observando um pouco no quintal. Achou estranho, a mãe não ia nem falar nada? Até que, quase imediato resolveu entrar e a mãe já com o chinelo na mão, batendo na irmã. Ela imediatamente ameaçou sair, quando a mãe, no meio da confusão, fechou a porta.

Depois de bater na irmã veio pra ela. Correu em volta da mesa, correu, correu, a mãe atrás com o chinelo, parecia até brincadeira. Correu, abriu a porta e saiu e a mãe disse da porta: - você vai entrar. Devia estar cansada a mãe. A menina decidiu: naquele dia não iria apanhar. Esperou a mãe esfriar, o pai chegar, a hora do jantar e entrou sorrateira, cismada. A mãe mandou tomar banho para o jantar. Foi. Sentou para o jantar, sentindo o ambiente. Ufa! Dessa vez se livrara...

Nilamaria
Enviado por Nilamaria em 26/05/2011
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