QUE COISA DOIDA, NÃO É VERDADE?

Senhor Brasil é o nome do programa, Rolando Boldrin o apresentador. Cantor ator contador de causos. O nome do programa é relativamente novo, tinha outro nome, que não lembro, quando passava no plim plim.

Causo contado por Rolando Boldrin: O cumpadre resolveu visitar o cumpadre que não visitava e nem era visitado havia muitos anos. Saiu de casa, abriu o portão virou para a direita entrou pelo portão da casa ao lado e bateu na porta.

Foi recebido pelo cumpadre com abraço apertado que logo o convidou para entrar. Conversaram comeram beberam pitaram contaram causos. Fim de tarde ele se despede e volta para sua casa ali ao lado.

Passam vinte anos e ele resolve visitar o cumpadre de novo. Sai de casa abre o portão entra pelo portão da casa ao lado e bate na porta. O cumpadre abre a porta, olha para ele e pergunta: - Já de volta, esqueceu alguma coisa?



Amamos o distante. Não deixamos de amar a quem amamos por estar distante. Não deixamos de ser amigo do amigo distante. A distancia não impede o amar e querer bem. Qual é então o grande barato?

O grande barato tem a ver com os tempos modernos. Eu não sei quem são ou o que fazem os moradores do apartamento acima e abaixo do meu. Certamente devemos ter dividido o elevador mais de uma vez. Não sei seus nomes, não sei se são felizes infelizes tristes ou contentes. Não me preocupo com isso e não quero saber.

Da mesma maneira eu não faço parte de suas preocupações. Talvez a única pessoa desse prédio a pensar em mim seja o dono dos gatos que eu me recusei a passar um feriadão limpando a merda deles no meu cantinho, no meu lar.

Não vou dormir pensando se meus vizinhos estão legais ou não. E eles estão aqui pertinhos de mim. Eles não vão dormir pensando se eu estou legal, ou se estou com algum problema, e eu estou aqui pertinho deles. Nos encontramos nos elevadores da vida, apenas isso. Eu não me importo com eles e eles não se importam comigo.

Mas eu, e possivelmente meus vizinhos, me importo e me preocupo com pessoas distantes, pessoas que nunca vi, nunca apertei as mãos, nunca nos abraçamos. Pessoas que muito provavelmente nunca entrarão em minha casa, eu nunca entrarei em suas casas.

Pessoas que eu amo e quero bem. Pessoas do norte nordeste sul sudeste centro oeste. Pessoas virtuais e tão reais. Pessoas tão minhas. Fico preocupado com essas queridas pessoas. Essas pessoas ficam preocupadas comigo. Eu as quero bem, elas bem me querem.

Mistério da vida moderna que encontramos aqui no Recanto.

Exemplo de mistério da vida moderna: Se uma dessas pessoas que amo e quero seu bem morasse no apartamento abaixo ou acima do meu, seria apenas mais um desconhecido vizinho. Eu seria para ela mais um desconhecido vizinho, o pior de todos os vizinhos, aquele que não fica limpando merda de gatos enquanto seus pais vão passear no feriadão.

Meu coração sabe quanto seria bom aquele chima em Sapucaia do Sul, a feijoada e o escondidinho de carne seca em Sampa, o pato no tucupi, a água de coco em Vila Velha, a bacalhoada no Rio de Janeiro, sopa de ervilha em Japerí...

Mesmo que todas essas iguarias estivessem intragáveis, coisa na qual eu não acredito, estar com as pessoas seria inesquecível. Que bom vocês não serem moradores dos apartamentos abaixo e acima do meu. A proximidade distancia as pessoas.

Que coisa doida, não verdade?








 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 28/05/2011
Reeditado em 06/10/2011
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