Adolescentes e os mistérios do crescimento

Já não sei mais quem tu és. Tento te interpretar lendo os teus textos e muito vezes me apavoro com tuas palavras. Elas são cruas, nuas e sem muita delicadeza, não combinam com tua face translucida, teus cabelos loiros, tua fala delicada e o teu jeito suave de lidar com as pessoas. Não enxergo mais a minha menina. Ela cresceu e está sofrendo a dor de não ver mais o mundo colorido? Mas, a minha garota nunca enxergou este mundo cor de rosa que pregam para as crianças. Ela tinha insônia e havia bailes em sua cabeça durante as noites. Aliás, as noites eram bem difíceis para minha menina, conturbadas, cheias de pesadelos. A minha filha transformou esses medos em lindos textos que, às vezes, me deixam um pouco zonza com a intensidade que demonstram.

As tuas palavras me chocam. As bonecas são de plásticos, os contos de fadas terminaram. Sentes muita dor é a dor do crescimento. Esta angústia nunca termina para as pessoas inteligentes e sensíveis como tu. Tens muitas interrogações, dúvidas e uma agonia não se apaga nem quando tu escreves todos os textos do mundo. Olho-te de longe, vejo uma linda adolescente e quando chegas perto vejo a minha criança sorridente que adora sorvete, chocolate. Mas, estás crescendo por dentro e por fora, reclamas das espinhas e te enches de chocolate. É o paradoxo do crescimento, queres sair sozinha, mas, a noite quer dormir na minha cama aninhada em mim como uma criança.

A tua angústia me machuca como a dor de um parto. Sei que crescer é deixar a doçura, a paz, as certezas e a proteção do mundo infantil. Vives dividida entre hoje e o ontem e ainda queres a ilusão das bonecas e dos contos de fadas, mas a tua maturidade já os matou. Te escondes atrás das letras. Eu tento te decodificar como um quebra cabeça juntando as frases, os poemas e as crônicas para ver esta garota nova que mora ao lado do meu quarto. Realmente, ainda me pergunto em que momento a criança começou a se despedir e a adolescente surgiu. Será foi quando as barbies foram esquecidas na estante e começou a paixão pelos vampiros? Sei lá, talvez, eu no meu continuo desligamento literário, não vi simplesmente a criança se despedir. Será minha doce (não tão doce) filha que a tua desnaturada e desligada mãe ainda se transformará numa esfinge por não conseguir te decifrar?

28/05/11

Isa Piedras

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 28/05/2011
Reeditado em 31/05/2011
Código do texto: T2999554
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