A crônica que não escrevi
Os leitores devem estar se perguntando por onde andavas este que vos escrevia regularmente, pausando às vezes pela abstinência literária. Sabemos que a falta de assunto sempre permeou o rol de crônicas estabelecido pela voracidade de grandes homens de nosso mundo escrito, porém neste dia que vos escrevo não será a falta de assunto que me incomoda, pelo contrário, há assunto para mais de metro como diz o dito popular.
Desde a pneumonia da presidenta Dilma até a despedida da Ophra da televisão, muitos assuntos se acumularam e o escritor aqui não soube aproveitá-los. Não houve habilidade para registrá-los de maneira literária. Pensei em reescrevê-los denotativamente, mas a escrita só tem sabor quando alimentada pela linguagem conotativa.
Osama Bin Laden morreu e não escrevi; as beatificações do papa João Paulo Segundo e da irmã Dulce aconteceram e não pude registrá-las da maneira como desejava; Salvador Allende foi exumado; Palocci acusado; a cartilha dos erros foi reprovada depois de muita polêmica envolvendo ignorantes, lingüistas, gramáticos normativistas e amantes da boa literatura, resultado: os livros é... persiste; o Código Florestal foi votado na Câmara Federal e foi aprovado acendendo o destempero entre aliados, meio aliados e oposição. De fato, muito se falou e este cronista aqui não registrou. Fui fadado pela ignorância, atirei-me no abismo da infelicidade, segreguei-me ao discurso dos ingratos, agreguei-me à fala alheia, definitivamente parece que as palavras negativas dos inimigos e falsos amigos parecem ter poder.