ENSINAR - UMA MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL


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A carta que reproduzo a seguir foi enviada à redação de um jornal da cidade de Santos/SP por uma professora da rede municipal de ensino da referida cidade. 
 
                Ano passado, um aluno entrou armado na minha escola; sorte que uma aluna viu e avisou a direção. A polícia foi chamada, o aluno levado à delegacia e o próprio delegado avisou que o garoto deveria voltar para a escola no dia seguinte.
                Há drogas na escola, e não só nessa, mas em toda a rede de ensino. Colegas minhas vão rezando para que o dia seja bom e tranquilo, pois os alunos não respeitam mais ninguém. Ao serem surpreendidos, xingam os inspetores, empurram e enfrentam.
                Dúzias de relatórios são feitos e nada acontece. Durante as refeições a comida vira material de guerra. Meninos e meninas batem-se o tempo todo e por qualquer motivo. Faltam funcionários, inspetores, porteiros e guarda municipal.
                O vandalismo impera. A família não se responsabiliza e o Conselho Tutelar não funciona. Não há punição, não se pode suspender o aluno, nem expulsá-lo e a legislação o protege. Ele tem direito à escola, ponto.
                Os bons alunos estão pagando a conta. Os professores estão ficando doentes, são ameaçados, alguns têm o carro detonado. É justo a aluna que sofreu a agressão saia da escola e não aqueles que agrediram?
                Educação vem de casa, mas isso já não acontece. Eles precisam de educação, mas a escola não é a salvação da Pátria e não vai dar conta disso sozinha. É muito lindo ouvir os discursos dos teóricos. Na prática, a realidade e bem mais cruel e doída.
 
Esse é o retrato fiel da educação na rede municipal de ensino em Santos/SP, cidade que tem uma população superior a 420.000 habitantes. É comum escolas municipais sem aulas exclusivamente por falta de professores. Na rede estadual a situação não é diferente e o que mais se vê nas escolas são educadores com o semblante de fracasso estampado no rosto. Pessoas frustradas e desanimadas com o escasso apoio do Município e do Estado. É visível a falta de estrutura emocional desses profissionais para dar conta de tantas funções a cumprir e tantos problemas a resolver. Uma terrível e acachapante rotina existente em instituições incumbidas de formar cidadãos.
 
Alunos se drogam nas dependências das escolas, roubam celulares uns dos outros, destroem o material didático gratuitamente fornecido, chutam e destroem carteiras e portas, arrebentam o quadro negro, jogam papel, giz e até caneta nos professores, falam palavrões, escutam MP3 nas alturas e mais uma gama de ações que acabam se perdendo de tantas que são. O que chama também a atenção é a violência entre eles, pois a cada dia que passa a idade para isso vai diminuindo. Crianças de 10-11 anos se atiçando e partindo para as vias de fato. Os alunos não têm atrativos, pois, em muitas escolas, a quadra de esportes fica fechada “na hora do recreio”, quando não durante todo o tempo. Sem ter o que fazer, a cabeçinha deles vira a oficina do diabo. Nos finais de semana as escolas não abrem e ninguém pode usar as dependências. É assim que começa o caos.
 
Leiam o relato de outra professora (de História) da rede estadual de ensino em escolas de Santos e Cubatão (cidade vizinha a Santos): “Cansei de ser lata de lixo de aluno. Hoje, decidi: depois de quinze anos de Magistério, vou parar de dar aulas. Toda aula é a mesma coisa. A gente vira as costas e passa a ser alvo de giz, papel e outros objetos. Não temos respaldo. Os diretores e coordenadores dizem que não podem fazer nada. A Secretaria de Educação, muito menos”. O desabafo da professora reflete o sentimento de uma infinidade de educadores. Impotentes e enfraquecidos, eles jogam a toalha e entregam os pontos. Com tanto problema de indisciplina, não sobra tempo para o trabalho pedagógico.
 
E o Estado e o Município não fazem absolutamente nada. A Secretaria de Educação e a polícia, por sua vez, também não fazem a sua parte. Diz uma mãe, cuja filha apanhou de oito alunos em uma escola municipal de Santos, durante a aula de educação física: “Ela chegou em casa toda machucada. Tentei denunciar na delegacia, mas não quiseram fazer BO porque ela tinha menos de 12 anos” (sic).
 
Com o tanto que vejo e leio nos noticiários, fico cada vez mais convicto de que ensinar, hoje em dia, é uma missão quase impossível.
 

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 30/05/2011
Código do texto: T3004176
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