Pensamentos Esparsos.

A vida vai passando diante os olhares suaves das crianças, esperançosos dos jovens e céticos dos velhos.

Entre altos e baixos, períodos de vacas-magras e insurgências eloqüentes mil, muitas possibilidades de transformação.

Tudo é calmo e triste no outono desta terra. O tempo seco e frio trás fome às crianças e febre aos idosos.

No Congresso aprovam e vetam projetos de leis. Raras as favoráveis à maioria. Grande terreno infértil este maldito Congresso “nostro” que vive no retrocesso teatral de injustiças e desigualdades.

Todos acreditam porque estão cansados demais para pensar e agir. As merendas das crianças nos colégios públicos são um insulto à dignidade da pessoa humana; o que dizer então dos salários miseráveis do professorado?! Uma afronta! Uma covardia! E todos, raras as exceções, se quedam inertes.

Na “idiocracia” em que vivemos ninguém pensa em ninguém; é cada um por si, se acovardando e se devorando a cada segundo.

Hoje queria sair e não encontrar ninguém. Vagar por muitos quilômetros, sozinho, sem pensar em nada, sem nada nos bolsos, sem sonhar e sem esperança.

Todo cidadão que se preze pensa um pouco no mundo ao seu redor. Um dia que não pensa o mundo o engole, a ele e à sua prole.

Não queria mais sentir fome, sono ou sede. Não queria precisar de nada nem de ninguém, governos, estatutos, leis, ordens impostas, regras e conveniências.

Encho o peito e penso no amanhã: a roupa a ser usada, a comida a ser comida, o trabalho, o que deve ser feito, o certo, o errado ou viver no defeito, no grito, no desafeto, talvez acertar na mega-sena...; penso no quanto fui besta naquela oportunidade, quando me pediram para entrar no time aos trinta e cinco do segundo tempo, com fones nos ouvidos, ouvindo “Friday”, de Bob Dylan; poderia ter ficado no banco de reservas ou corrido para o vestiário, mas não, quis jogar, e dentro do jogo mandei a bola pra fora do estádio num petardo sem direção, para fora da possibilidade de se dar procedência à partida (só tinha uma bola); penso no quanto penso e no quanto deixo de pensar; penso se um pouco mais ou um pouco menos, pra cá ou pra lá (encima do muro é que não se pode ficar); penso no clima do fim de semana, da segunda triste, da terça sonolenta, da quarta quente, da quinta torta e da sexta feira demente; penso se todo pensamento não pode ser mudado no exato momento anterior ao ato de pensar, e se pudesse ser mudado, já que “pensando estamos existindo”; penso nas tolices e glórias mais agitadas, como quando pensei um dia acreditar na Constituição de 88 e que seria livre a manifestação de pensamento; penso muito rápido e em várias coisas ao mesmo tempo, mesmo que não valha muito à pena nisso pensar; penso no vento que leva os cabelos da adolescente que vive a sonhar debruçada na sacada do décimo sétimo andar; penso na avó idosa que obrigatoriamente tem que cuidar da netinha de colo; nos cabelos brancos e na vida que se esvai dentro da monotonia de muitos anos vivendo na mesma casa, da mesma maneira, repetitivamente, num infame “eterno retorno”, com trabalho, trabalho e trabalho, o “tripalium” dos miseráveis; penso num pobre diabo afundado em seu vício, deitado num barraco carioca, às três da tarde, fedendo à maconha e álcool, para não dizer na atual maldita droga óxi, e na impossibilidade que gerara dentro de si a respeito de abandonar tal vício; penso num outro pobre diabo que abraça uma garrafa de bebida alcoólica e só a deixa quando não vê mais nada ao seu redor: mulher, filhos, finanças, amigos, emprego e saúde; penso no oxigênio que falta ao corredor no momento que alcança um terço do trajeto; no cão que tira o sono daquele que tem que acordar às três da manhã para cortar cana; no mundo chorando quando um míssil atinge seu bojo; penso tanto e em tanta besteira que até dá vontade de sair por aí sem pensar...

Savok OnaitSirk, 24.05.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 31/05/2011
Código do texto: T3005521
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.