O VASO DO SENHOR NÉ
 
        Era um vaso antigo, uma verdadeira relíquia. Pertenceu a meu avô, que o tinha como objeto de estimação. Contou-nos certa vez, que uma moça lhe fizera a corte, presenteando-o com aquela raridade, isso num tempo em que beleza física e riqueza não lhe faltavam.
          O “velho” Né soube viver a vida! Gastou a herança de meus bisavós em viagens, aventuras e mulheres. Adorava presenteá-las com jóias e uma delas, apenas por ter olhos verdes, recebeu dele um estonteante colar de esmeraldas.
        Com sua morte, meu pai ficou com seus pertences, entre eles, o vaso. Um dia, ofereceram por ele um valor acima do que imaginávamos. Mamãe não quis se desfazer da lembrança do “Seu” Né (que era Manoel, ficou Mané e depois Né).
          Quantas vezes admirei aquele vaso! Passava horas tentando entender os seus contornos e desenhos. Imaginava por quantas casas ele havia passado, quantos segredos teria para revelar, caso pudesse. E assim, perdia um bom tempo tentando fazer a leitura daquele objeto.
          Num domingo, os bisnetos de mamãe estavam em casa e uma bola alcançou em cheio o vaso, quebrando-o em muitos pedaços. Fui recolher os cacos e entre eles, percebi um fino papel de seda dobrado minuciosamente. Desdobrei com cuidado o papel amarelado pelo tempo e pude ler, nas letras quase disformes, uma linda mensagem de amor: “com saudades, de sua Esmeralda”.  
          Assim, decifrei a leitura final do vaso do Sr. Né.


By Angela Ramalho

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