Eleições Municipais
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Chico da Bella fora vereador.
Muito respeitado no interior, Chico também atendia pelo codinome de Bilinho.
Para ele, o apelido além de mais carinhoso, era falado pelos vários e muitos amigos que possuía desde os tempos de infância.
Aproxima-se a eleição de final de outubro, segundo turno, e Bilinho concorria com Pedro do Milho ao mais alto posto da hierarquia política municipal: Alcaide, conhecido nos dias de hoje como Prefeito Municipal.
Bilinho, então, resolveu demonstrar que sua influência política estendia-se a outras tantas Províncias do Estado; bem como, e também, ao Palácio do próprio Governador e Câmara Federal.
Bilinho, porém, carecia de um motivo para movimentar o social da pequena cidade do interior do Estado. Precisava de um motivo.
Com um bom motivo, pretendia fazer convites e seria anfitrião.
Em cidades do interior anfitrião é anfitrião, e o bacana é o anfitrião; mas faltava um motivo para a festa, um bom motivo.
Até que, num belo domingo pela manhã, naquela reunião na sede da Associação de Criadores de Curió, o motivo apareceu.
Estavam todos, criadores associados reunidos, posto que preocupados com outra Associação a instalar-se na cidade: Associação dos Criadores de Jacaré.
Preocupados estavam porque a Prefeitura destinava uma verba para Associações no Município, mas a verba era única.
Caso outra Associação ali se instalasse, essa verba generosa seria dividida por duas, três ou por quantas fossem.
Oriundos de Minas Gerais, um grupo de mineiros, é claro, com família, gatos e cachorros, adquiriu uma área de tantos hectares.
E ali, bem pertinho da cabeceira do Corguinho, resolveram criar jacaré, em Associação.
Ora, jacaré!
Primeiramente, os mineirinhos instalados começaram a atrair a atenção da população que vivia sem novidades desde o Movimento Paulista libertatório de 1932.
O pai de Bilinho lutara pela independência.
Logo depois, e especificamente, os mineirinhos chamaram a atenção de Pedro do Milho, que acreditava que jacarés, em algum momento, consumiriam sua produção de grãos do milharal.
Ora bolas, quem sabe!- assim pensava Pedro, além do que também se encantara com a popularidade dos chegados mineiros.
Por conta disso, Pedro aproximou-se intencionalmente dessa amizade e a cultivou e a regou com cachaça da boa servida no bar do Italianinho.
Chico da Bella percebeu essa aproximação.
A maioria dos integrantes da Associação dos Criadores de Curió era comerciante e produtores locais.
Eram pequenos criadores de gado de leite, dois ou três mexiam com abelhas, dono da farmácia, do mercadinho e até o dono de uma boate escondida na saída da estrada que levava para o Oeste.
Mas a grande maioria dos Associados era mesmo criadora de frangos que eram vendidos por todas as cidades da região, naquelas vitrines transparentes vulgarmente chamadas de televisão de cachorro.
A Terra do Frango, orgulho da cidade.
Terra do Jacaré! - Nem pensar.
Ainda pior é que andaram espalhando que do jacaré só se comia o rabo e o fato não soara bem aos ouvidos da comunidade masculinizada.
Pedro do Milho também pertencera anteriormente à Associação dos criadores de Curió, porém fora banido depois que descobriram que Pedro usava uma balança de 100 Kg aferida para registrar 10 Kg a mais.
Por essas e outras, Pedro ficara, além de tudo, sem espaço político.
Mas a disputa para o pleito estava se aproximando e o motivo tanto procurado, havia aparecido.
De um lado, Bilinho e o conservadorismo.
Do outro lado, Pedro do Milho e a novidade dos jacarés.
Suas campanhas indicavam, respectivamente, a estabilidade das tradições regionais e o liberalismo das idéias inovadoras.
Então Bilinho articulou manobra política magistral e mandou confeccionar convites que logo foram encaminhados para que a cidade assistisse à palestra do IBAMA a ser realizada nas dependências do Teatro Municipal, antes da apresentação festiva da banda, no coreto da praça principal.
O assunto da palestra: Matança de Jacarés.
O jornal da cidade publicou com bastante ênfase.
Os convidados políticos compareceram em massa.
Amigo de Bilinho, Franco Calzone, deputado federal, fez um discurso de fazer chorar, defendendo a flora e a fauna.
O nome Calzone garantira a seriedade e a veracidade do evento.
Pedro do Milho perdeu a eleição e em seu nome foram apurados apenas dois votos.