Um Grito no Gueto de Varsóvia.

Assistindo televisão na hora do almoço, em programas esportivos, como costumo fazer, mudei aleatoriamente de canal e fatidicamente caí num documentário sobre o “Gueto de Varsóvia”, o que me fez perder as estribeiras, o apetite e a vontade de voltar ao trabalho, de continuar a acreditar na raça humana como seres plausíveis e superiores aos animais, sem generalizar, portanto. Lacrimejando, deixei o prato de comida pelas metades e corri a chorar em algum canto escuro, sozinho, remoendo o fato de também ser humano e de nada mais poder fazer a não ser escrever estes mil vezes ditos, ou malditos, “impropérios”.

Há um cão que me olha do lado escuro da vida; uma formiga que ultrapassa o frontispício de meu fogão..., e que me olha também, os quais evito pisar, pois entendo que na vida não se deve pisar no que também vive.

E, no entanto, pensando em quanto, é inconcebível sequer cogitar no que os malditos nazistas fizeram com tanta gente, crianças, idosos, mulheres, independentemente, covardemente.

É inconcebível igualmente buscar encontrar justificativa razoável, mesmo irracional, para tanto, para tanta crueldade, diante tantos meandros possíveis e impossíveis habitando a mente humana.

E é igualmente inconcebível imaginar que na atual conjunetura em que vivemos, passadas tantas experiências sórdidas, mesmo àquela época, pleno século XX, ainda vermos por aí jovens empunhando a “suástica” e endeusando aquele que sem dúvida foi demônio em pessoa, o mais abjeto ser vivo (recuso-me a intitular hitler como ser humano) que já pisou o Planeta!

Seu nome deveria ser extirpado dos livros de história, apagado da memória, como se não fosse nada, um inseto, porém suas insanidades ficarão na lembrança permanente de entes das vítimas e de quem viu ou estudou aquele inferno, o holocausto. Aquele período deveria apenas constar como um buraco negro na história, um número absurdo de mortos escancarados, olhares lacrimejantes e corpos esqueléticos daqueles que verdadeiramente foram os maiores heróis de uma batalha inglória, covarde, cruel e injusta. E referidas obras de história deveriam vir acompanhadas pelo triste som de um piano solo e um sopro gélido!

Até hoje a razão não chegou a um consenso sobre o que motivou ou justificou tamanha carnificina de pessoas inocentes, trabalhadores, aposentados, donas de casa, carpinteiros, mecânicos, comerciantes, etc..., Indifirentemente de qualquer distinção, os nazistas iam matando a todos, friamente, desde crianças recém-nascidas, mulheres ou idosos, acamados ou doentes; na verdade queriam o cerne, caso pudessem, eliminar o imo, a essência, a raça, a cepa, passado, físico e genético e tudo mais do indivíduo, reduzindo-o a nada, utilizando, para tanto, das mais cruéis e desumanas maneiras de desintegrar a vida do próximo, comandados, os algozes, por um ser repugnante, uma mente podre em um corpo podre, que, até hoje não se sabe, angariara milhares de sectários-idiotas-escravos que perpetraram suas aberraçoes mentais.

Quando penso nesse monstro sinto cheiro de esgoto, fezes e enxofre, tendo vontade de vomitar. E pensar que o mundo “civilizado” da época, vendo tudo, ou talvez fazendo vistas grossas, permitiu tais atrocidades... Crianças carregando bebês, talvez seus irmãos, famintos e com frio, olhares atemorizados, adentrando num trem abarrotado, fétido, destinados às mais absurdas crueldades, inimagináveis mesmo em piores pesadelos. Podemos imaginar, imaginar!, o que aquelas pessoas sentiram... Talvez, o desconhecido..., mas, e o que hitler sentia quando recebia a notícia de que seus desígnios estamos sendo efetivados? Gozava? Ria? Sentia fome e comia? O que aquele inseto pensava, se é que pensasse em alguma coisa??

Ah, como gostaria voltar ao passado e travar uma batalha de vida ou morte com aquele desgraçado, apenas eu e ele, num local ermo, sem armas, mãos limpas, somente eu e ele!

Sua biografia deveria ser contada como a história de um fraco que numa época qualquer transformou o mal em prioridade, comandando, sabe-se lá como, as forças malígnas de uma nação à prática da barbárie contra seus próprios co-irmãos.

Pelo amor de Deus ou no que quer que creditem suas existências, JOVENS, vocês que vagam por aí vestindo a ideologia nazista: “ACORDEM” para a compaixão e a igualdade entre os homens! Saibam que “GRITOS” de fome são maiores e mais magnânimes que as ideologias que vos consomem! Imaginem-se, ao menos por um segundo, as vítimas às quais foram os vitimados!

O mundo passou, passa e passará por vários ideais, filosofias, ideologias, modas, fases, enquadrando-se cada época em seu tempo, sendo que duas das mais cristalinas foram as pré-socráticas e as Hippies. Isto é, ouvindo-se Crosby, Stills, Nash and Young.

De qualquer forma, vamos lutando contra nós mesmos, contra nossas próprias compleições...

A população judaica de Varsóvia foi alvo de todo tipo de humilhações e dos maiores abusos praticadas pelo exército alemão. No capítulo "A caça é um prazer", de sua autobiografia, Marcel Reich-Ranicki dá-nos um relato pessoal dos acontecimentos:

"Ainda Varsóvia acabava de se render; mal tinha chegado a Wehrmacht à cidade, logo começou o grande gáudio dos vencedores, o prazer incomparável dos conquistadores – a caça aos judeus.

Após o rápido, grandioso triunfo, aos soldados alemães, exuberantes e compreensivelmente desejosos de aventura, oferecia-se nas ruas de alguns quarteirões da capital polaca uma vista surpreendente. O que ainda não se tinha sucedido aparecia-lhes agora pela frente a cada passo: Eles viam, completamente surpresos, inúmeros indivíduos orientais, ou de aspecto aparentemente oriental, com longas faixas de cabelo nas têmporas, e com fartas barbas. Exóticas eram também as suas roupas: pretas e sem ornamentos...

Os jovens soldados (alemães) viram pois, pela primeira vez nas suas vidas, judeus ortodoxos. Estes estranhos habitantes de Varsóvia não lhes despertavam nenhuma simpatia, muito mais desdém e talvez repulsa. Mas os soldados podiam agora também gozar de uma satisfação inconsciente. Pois se em casa, em Estugarda, Schweinfurt ou Stralsund eles não conseguiam distinguir visualmente os judeus dos alemães de “raça pura”, os “arianos”, aqui eles podiam finalmente ver aqueles que só conheciam das caricaturas dos jornais alemães, sobretudo o der Stürmer....

Que estes sub-humanos, que sem dúvida deixavam uma impressão mais medrosa do que ameaçadora, pudessem portar armas, era muito improvável. De qualquer forma isso tinha de ser controlado. Diariamente tinham lugar controles, nunca se sabia qual o próximo quarteirão a ser revistado. As armas, as quais os bem-dispostos soldados supostamente procuravam, não apareciam, por muito que eles se esforçassem. Mas eles possuíam outras coisas que os ordeiros homens alemães acolhiam de bom grado: Anéis, carteiras, dinheiro, e por vezes um relógio de ouro.

Mas não se tratava apenas de roubar os judeus. Eles, os inimigos do Império Alemão deveriam também ser punidos e humilhados. Não era difícil de o conseguir. Os soldados notaram em breve que os judeus ortodoxos achavam particularmente humilhante que lhe cortassem as barbas. Com este objectivo, os ocupantes, desejosos de entretenimento, tinham-se munido com tesouras...

Assim era: cada alemão que vestisse um uniforme e tivesse uma arma podia, em Varsóvia, fazer com um judeu o que quisesse. Ele podia obrigá-lo a cantar, a dançar, ou a fazer nas calças, ou a ajoelhar-se perante ele rogando pela sua vida. Ele podia abatê-lo repentinamente ou matá-lo de forma mais lenta. Ele podia ordenar a uma judia que se despisse, que limpasse o passeio com a sua roupa interior e depois que urinasse em frente de toda a gente. Ninguém estragou o divertimento aos alemães que se entregaram a estes passatempos, ninguém os impediu de maltratar e matar os judeus, ninguém os chamou à responsabilidade."

E, por fim, nunca serão demais as homenagens às vítimas do holocausto...

Obrigado, Heitor Herculano, pela correção.

Savok Onaitsirk, 31.05.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 01/06/2011
Reeditado em 01/06/2011
Código do texto: T3006965
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