Um trago...

Um trago...

Angélica T. Almstadter

Eu desejava um trago...dentro desse copo buscar o silêncio...

Tudo que eu mais queria era o cessar das línguas...do movimento de idas e vindas...enquanto me afogo nesse dourado líqüido...

Um trago gelado...para apagar o calor que me percorre o corpo...essas brasas

que queimam na memória táctil...

Um trago e mais um pouco, servido com delicadeza...para amainar a destreza dos pensamentos frouxos...que não sabem repousar na esteira da imaginação...

Eu desejo um trago urgente...servido por gente...por gente que tem sabedoria...

e com a finesse dos gestos comedidos...saiba oferecer-me um trago sem fazer perguntas...gente que saiba se sentar no meu alpendre...e comigo olhe a noite coalhada de estrelas...dedilhe na viola uma seresta que me encante...

...Junto com esse trago quero que traga um guardanapo...um papel ou um trapo...pra eu rabiscar as minhas heresias...essas linhas desconexas que chamo de poesias...que tenha a coerência de não interromper minhas prosas...melosas...cheias de perturbações da minha mente extravagante...incoerente...

Quando a dose me subir pelo rosto...e queimar a minha face...e embriagada eu não souber mais definir as imagens...que eu tenha um ouvinte dedicado, que não ria do meu filosofar barato...do meu olhar marginal do mundo...

Preciso urgente de um trago...acompanhado da solidariedade de uma boa companhia...que tenha um ombro quente...um olhar complascente...que afague as minhas mãos e enxugue o meu pranto convulsivo...

Aceito um trago...em dose dobrada...com guaraná e muito gelo...nesse fim de tarde gelada...enquanto eu reviro meus lamentos e atiro ao chão os acintes...reavalio as cobranças involuntárias...

Preciso mergulhar no silêncio de mim...rasgar a intimidade, mergulhada nesse trago...assim recostada nas minhas certezas...grogue de esperanças...te convido ao brinde...aceitas?

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 30/01/2005
Código do texto: T3011
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