Nosso estado de São Paulo

Nosso estado de São Paulo

Jorge Linhaça

São Paulo deve ser a única cidade no mundo que tem dois prefeitos, sim, não se assustem, dois prefeitos , pois aquele que deveria governar o nosso estado reserva quase que a totalidade dos benefícios e recursos do estado à capital paulista, obviamente com os olhos postos nas próximas eleições.

Todo ano de campanha para governador e presidente é a mesma história, obras e mais obras , hospitais, escolas e sabe-se lá mais quantos programas concentrados na cidade de São Paulo, enquanto que no interior os únicos investimentos de porte são feitos na construção de presídios e "fundação casa".

Os moradores de tais cidades sabem muito bem o que isso significa, a queda do turismo, o aumento da criminalidade e etc.

Enquanto no interior paulistano usa-se a construção de penitenciárias como moeda de troca para construir ou asfaltar estradas vicinais, na capital constrói-se uma infra estrutura voltada para turistas e os mais abastados, já de olho na tal "Copa do Mundo"

Enquanto isso, aqui no interior, os poucos hospitais públicos existentes vivem sobrecarregados operando acima de sua capacidade porque atendem a dezenas de cidades onde não existe infra estrutura hospitalar para atender especialidades clínicas.

Construir e equipar hospitais no interior do estado não passa pela cabeça de nossos ilustres governantes porque implicaria na contratação de dezenas ou centenas de funcionários qualificados pagos pelo estado e poria fim (ou ao menos minimizaria ) a prática corrente da "ambulançoterapia" , do rabo preso dos prefeitos ao governo estadual para receberem ambulâncias doadas por este último, com a finalidade de transportar doentes para outros municípios a quilometros de distância.

Quem paga essas ambulâncias? Claro que somos nós.

São necessárias? Claro que sim, mas não precisariam percorrer tantos quilometros e horas para locomover os doentes.

Mas o povo do interior, embora contribua com seus impostos tanto quanto os moradores da capital, continuam sendo tratados como cidadãos de segunda ou terceira classe, dependendo do tamanho de seus municípios.

Mas , pasmem os senhores, mesmo com dois prefeitos, a cidade enfrenta sempre os mesmos problemas...greves de transportes públicos são fato recorrente, apesar dos aumentos constantes de tarifas. Isso sem falar nas enchentes, nos atrasos premeditados das obras para que não sejam necessárias novas licitações para o acréscimo de verba que sabe-se lá para onde irão.

Estes dias, retornando da capital, pude reparar nos constrastes até mesmo na nossa megalópode: dependendo de onde estão localizadas as estações do metrô, o padrão das mesmas é flagrantremente diversificado. Inclusive as composições.

As linhas que atendem zonas consideradas mais nobres são bem mais cuidadas, bonitas , parecendo que estamos em outro país.

Na viagem de volta , vindo pela rodovia Castelo Branco, chamou-me atenção uma enorme placa do governo estadual dando conta da duplicação de uma ponte de há décadas deixada às moscas.

Nada haveria de estranho se tal rodovia não fosse privatizada e faturasse milhões de reais com pedágios cada vez mais caros.

Oras, se a rodovia é privatizada, sob responsabilidade de uma concessionária que, teoricamente deveria se responsabilizar pela manutenção e melhorias da estrada, por que cargas d'água é o meu e o seu dinheiro, bem como de todos que pagam impostos e sustentam a máquina estatal que deve pagar pelas obras?

Das duas uma, ou a placa é mentirosa ou existe alguém lucrando( e muito, por baixo do panos ) .

Imagine que eu construa um prédio e que conceda a você o direito de explorar os aluguéis do mesmo, com o compormisso de que vc me devolva parte ínfima da renda e mantenha o prédio em boas condições e faça as benfeitorias necessárias.

Agora imagine que você, por algum motivo resolva construir mais um ou dois andares e venha me pedir que pague por essa construção ao invés de arcar com os custos segundo nosso contrato.

Garanto que ouviria de mim um sonoro não!

Já quando se trata de dinheiro público, tudo é possível de acontecer.

Talvez eu tenha o terrível vício de pensar demais e de reparar nas coisas que acontecem à minha volta.

Talvez a maioria ache natural e irreversível esse tipo de situação.

Talvez uns poucos se sintam mesmo privilegiados pelo tratamento diferenciado que recebem de setores governamentais.

Fico aqui imaginando se a justiça neste país fosse séria, se julgasse políticos e figurões como julga um pé de chinelo qualquer,

sem privilégios ou eternos recursos, se haveria cadeia suficiente para todos os envolvidos.

Mas, quem tem dinheiro para pagar bons advogados ou tem as costas quentes, raramente chega a conhecer o xilindró.

E quando conhece é para uma breve estadia, em celas individuais até que seja impetrado um habeas corpus.

Isso não se restringe à esfera estadual, nem municipal, nem federal, o fedor de esgoto percorre todos os túneis subterrâneos da política nacional.

Só quem pouco ou nada lucra com isso é o povo, acostumado a comer as migalhas que caem das mesas dos glutões do poder.

Contatos com o autor

anjo.loyro@gmail.com

Arandu, 2 de junho de 2011