... experiências ...

Apaixonada pela comunicação escrita, eu exercito minhas habilidades com o ato de escrever, que acredito ser um ato cultural e social. Por isso, onde quer que esteja eu não deixo de pensar escrita. Nesta manhã, por exemplo, tive a idéia de entrar um posto médico, no bairro onde moro, no caminho do trabalho. Ao entrar neste ambiente, sentei-me num banco junto a outras pessoas e fiquei ali por meia hora, quietinha como ouvinte, escutando o que elas conversavam, e nasceu este texto.

No posto médico, experiências...

Eles querem conversar, contam alegremente suas memórias, falam de seus valores familiares, de suas experiências de vida, de suas vivências mais preciosas. Discutem sobre política, sobre o governo, sobre transporte, sobre...

Comentam algumas de suas dificuldades devida a idade mais madura. Ah! A idade traz de volta a espontaneidade da infância, deixando seres maduros mais leves, descomprometidos com as expectativas do que o outro vai ‘achar’ ou pensar ao seu respeito.

Divertidamente eles brincam entre si com a límpida consciência dos próprios valores, sábios dão explicações, discursam sobre como era o bairro quando aqui chegaram.

São pessoas de várias regiões do Brasil, Minas Gerais, Pernambuco, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, interior de São Paulo, enfim, são todos brasileiros autênticos.

Nessa comunicação eles conseguem descobrir similaridades no cotidiano, recriam a realidade sob ângulos tão naturais, tão simples, que nem o fato de serem de regiões diferentes as impede dessa conexão singular que o ser humano tem de relevar um ao outro o melhor de suas vidas.

E fica evidente que o melhor na vida de cada um é a convivência familiar. Eles todos falam muito da família e, sobretudo em Deus, em fé. Um sentimento que vem dessa força maior e inexplicável, que deriva de um ser provedor de tudo, pela sua grandeza elas agradecem pelo merecimento de estar vivo, de ter saúde, pelas pessoas de suas convivências, do marido, da esposa, dos filhos, dos netos, dos bisnetos, de tudo aquilo que construíram em vida.

Compartilham suas histórias e visões:-

Uma diz: Cresci num tempo de lamparina, pois no interior de Minas não tinha energia, era tudo muito simples, mas a família sempre foi muito unida.

A outra: Meu pai ensinava a gente a não deixar nenhum grão de arroz no prato. Lembrava-nos de dar valor ao alimento, pois do seu cultivo é que vinha nosso sustento. Meu pai era agricultor. Aliás, todos nós ajudávamos nas plantações e colheitas. Aprendemos muito cedo o valor do próprio trabalho, e não desperdiçar a dádiva do alimento.

Um senhor comenta, “talvez não esteja aqui para ver o metrô chegar ao bairro, tamanho é o atraso do transporte ideal, numa cidade que é considerada tão importante no cenário brasileiro”.

*São Paulo é o principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América Latina. Tem significativa influência nacional e internacional, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político, é a sexta maior cidade do planeta e sua região metropolitana com 19 223 897 habitantes, é a quarta maior aglomeração urbana do mundo...

O outro reforça, “eu então, vou ver do lá do paraíso, pois em breve estarei me mudando pra lá, mas entenda bem, vou me mudar para o bairro Paraíso, lá sim o Metrô já funciona há bastante tempo. Têm até linha de Metrô para a região do Ipiranga...”

De um jeito bem humorado eles vão revelando oceanos de memórias e experiências, meio a fragilidade da idade do corpo, esperam para serem atendidos no posto médico, e sem calar suas falas, enriquecem meus ouvidos numa típica manhã fria de inverno. Não por acaso eu cheguei ali! Assim eu vou aprendendo a movimentar os signos que me motivam a expressar idéias e emoções, minha mente erradia sol quando eu consigo extrair das letras o significado da vida!

Cássia Nascimento
Enviado por Cássia Nascimento em 03/06/2011
Reeditado em 03/06/2011
Código do texto: T3011689