Por que escrevo?

Há muitos motivos para uma pessoa se dedicar à escrita. E dizer as razões pelas quais não escrevo pode indicar o que me faz escrever.

Não escrevo para me exercitar na influência que os humanos lançamos e sofremos uns sobre os outros. A isso dão o nome de poder e eu não o quero além daquela cota espontânea e natural inerente ao nosso ser, vital a que toquemos adiante a turba das noites e o rebanho dos dias.

Também não escrevo visando a um resultado em forma de lucro, cuja lógica é acumular, por entender que a vida é curta, um sopro, e juntar coisas que ficam não acrescenta ao que estou sendo. A vida que me seduz é a que se embrenha na intensidade, e não a que se resuma à extensão das coisas ao redor. A isso nomeiam riqueza material e eu sei que essa não é a única fortuna possível.

Por fim, não escrevo para ir sempre de um “menos bom” a um “sempre melhor”, para progredir e prosperar, seja pessoalmente, socialmente ou mesmo no âmbito profissional. Esse processo foi denominado de desenvolvimento, progresso ou prosperidade, e eu sei que o bom é o tempo presente, a vida de agora, o que respiro ou externalizo. Viver é o que posso, meu tesouro, meu máximo bem e eu tento escrever sob seus ditames. Nada que sobre ou falte me cativa.

Desse modo, escrevo: de um só lance ou doidamente, leve ou no peso do conceito, calmo ou agitado, até o fim ou só a metade... Mas isso já é viver. E o faço porque algo em mim o impõe; porque alguma coisa por mim ou por outrem o pede e quer; algo que de ninguém ou de seres amados sugerem; coisas que o leitor ideal, aquele em comunicação comigo, espera de mim, e eu nunca sabendo se ele chegará para a compreensão se realizar.

Escrevo porque enquanto isso vivo e existo. E o faço de modo a me sentir contente, feliz. E tenho sido. Será isso o caminho por meio do qual entrego-me à busca da sabedoria?