Maria traiu josé II

Talvez jamais tenhamos certeza se Capitu realmente traiu Bentinho. Machado de Assis, com sua perspicácia, dorme tranqüilo no seu túmulo, sentindo a curiosidade universal que aumenta a cada nova tese. Se Mona lisa era Gioconda ou o próprio Da Vinci envolto nas suas fantasias também permanecerá em segredo eterno. Agora, doa a quem doer, Maria traiu José na maior cara de pau! Mas, calma inquisidores de plantão, não me mandem a fogueira antes de entender minha denúncia. A história de Maria e José tem como primeiro cenário a pequena cidade de Nova Porteirinha, na microrregião de Janaúba, com pouco mais de 8.000 habitantes e uma ponte que divide as duas cidades e como segundo cenário Pai Pedro Ex-distrito de Porteirinha que possuía até pouco tempo o menor IDH de Minas Gerais população estimada em pouco mais de 6.000 habitantes. O casal morava tranqüilo, vivendo da plantação de bananas e suas criações de poucos números para seu sustento. Casados há algum tempo, mas sem filhos por conseqüência de uma queda de cavalo quando mais jovem ter esterilizado José. Maria bem mais jovem, bela e fogosa, sonhava com um filho. Os dois eram católicos, porém, o marido era além do normal. Tinha tanta fé, que só iniciava seu trabalho de manhã após voltar da missa das seis. Isso, ordinariamente, de segunda a segunda. Maria às vezes ia, outras se desculpava dizendo não estar passando bem. O tempo ia correndo com o moço cada vez mais católico, e ela cada dia mais sagaz, pensando em outras variações que não fosse só o sexo religioso do esposo. Invadia o seu pensamento as mais loucas e pecaminosas imagens, bocas e muito mais. José estava cada vez mais cego na fé, tanto que se deixou enganar numa feira de Porteirinha por um tal de “Juliano Ficha-Suja” que lhe vendeu uma folhinha com a foto de Bento XVI por cento e cinqüenta reais dizendo que fora o próprio Papa que o pedira para negociar. Nessa época, o preço da banana estava caindo, segundo alguns entendidos de economia, era a crise da bolsa nos Estados Unidos refletindo ali. O pobre fiel depositava em Deus as esperanças e dizia que se tratava da vontade Dele. Maria não suportava mais aquela letargia do marido deixar que os problemas fossem resolvidos magicamente por Deus. Quando a crise tornou-se insustentável o jeito foi fechar a casa e sair em busca de melhoria mundo a fora. O lugar mais apropriado segundo José era a antiga morada na cidade de Pai Pedro. A mulher, mesmo contrariada aceitou ir para aquela sequidão insalubre viver de uma pequena ajuda que o governo oferecera aos produtores lesados. Naquele lugar, o homem mergulhou totalmente no mundo religioso. Nada mais queria fazer senão preparar sua alma para a chegada de Jesus Cristo. E o povo de pouca instrução e muito sofrimento passou a segui-lo acreditando no fanatismo das suas palavras, um professor de história da cidade de Montes Claros em visita ao lugar comparou José ao Beato Antonio Conselheiro assassinado pelo Exercito Florianista. Certa vez Maria fora repreendida a tapas numa linda noite de sábado, quando em um raro momento de amor dos dois, soltou alguns gemidos de prazer. Ela chorava e maldizia, ele orava e pedia perdão, não pela agressão mas sim por ela ter pecado com seus gemidos. No outro dia, um tal Fidelcino Neto, andarilho Alagoano, comerciante de redes, apareceu para tentá-la, pois os comentários sobre José estavam em todos os arrabaldes e ele já sabia da situação de cárcere da mulher. No primeiro dia fora expulso a baldes de água quente; no segundo a água já era fria; no terceiro dia Maria queria ressuscitar sua libido e bateu a porta com um sorriso de “Gabriela Cravo e Canela” no quarto dia um sorriso de Bruna Surfistinha; no quinto já contava sua história de sofrimento e privação usando uma mini-saia e uma blusa tão decotada que a cada movimento os seios ficavam a mostra. “Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos” seria esta a trilha se este Zé fosse Geraldo, mas como este é outro... José estava peregrinando no sol ardente com uma cruz de três metros nas costas arrastando sobre a areia das estradas infelizes da seca, dizendo que Jesus viria logo. Olhava para o céu e via anjos voando como na canção de um padre pop star que sumiu do Faustão. Era tudo que Maria e o camelô precisavam para terem o filho tão sonhado por ela, mas preliminarmente realizou todos os desejos amputados. Se antes brigava com o esposo para não sair com a cruz nas costas “feito gente doida”, agora fazia de tudo para que ficasse até mais tempo exorbitado na poeira com seus seguidores. Numa destas conversas comentou que tivera um sonho em que um anjo do Senhor lhe dissera que ficaria grávida do espírito Santo. José quase sofre uma parada cardíaca de felicidade, gritou aleluia e ajoelhou-se chorando agradecendo a Deus. Maria também chorou de alegria. A barriga crescia e aquele homem não escondia a emoção de reviver a saga do carpinteiro Judeu. No dia do nascimento os fanáticos seguidores de José foram visitá-lo, no intuito de se aproximarem o máximo da história, todavia com poucas posses, levaram varinhas de incenso compradas por um real e noventa e nove centavos, desodorante de dois reais e trinta centavos, e algumas moedas douradas de dez centavos. Fidelcino o pai biológico do “filho de Deus” apareceu de relance, mas não demorou. José orava e beijava insistentemente a criança até que Maria adormeceu... Quando o primeiro galo cantou na forquilha da porteira, José estava com um burrinho arreado e poucas roupas em duas bruacas nas ancas do animal. Acordou Maria e partiram sem rumo, um cometa riscou o céu ainda estrelado rumo ao Norte fazendo com que o homem voltasse a rédia para aquela direção e comentasse; - há dois mil e onze anos, o senhor foi crucificado agora que voltaste isto não vai se repetir... Em nome do pai do filho e espírito santo, amém. Maria pensou; “Desta vez a cruz é minha”.