Estacionamento perpendicular
O que faz um escritor escrever? Impulso, inspiração, dom, ambiente onde vive, onde está? Tédio? O âmgulo de um edifício? Uma bandeira rasgada que tremula com o vento? A árvore no meio fio procurando a floresta perdida? O vai e vem de humanos? Seres que às vezes se opõem à beleza da tarde?
Agonia das horas. O tempo tem dessas coisas: nasce, cresce e morre em um só dia, todos os dias. Caso fosse eu, enjoava. Nunca fui dada a rotinas.
Tem um aleijado andando com muletas em minha frente. Fica ali o dia inteiro, disseram.Ele é feio, mas sorri para as mulheres que passam, e dentro da máscara horrenda os olhos brilham de desejo. É asqueroso! Mas existe.
O quê? Queria que o muldurasse aspecto divinal? Deixemos isso aos poetas que enxergam beleza em tudo. Eles vêem o avesso, do avesso do avesso. Nesse momento só consigo enxergar o avesso.
As horas continuam marcando passo, "o tempo não pára" como disse Cazuza, maravilhoso. Existe na vida um por que e um para quê. A humanidade pós Cazuza já desfruta o para quê. Todos os poetas possuem dentro de si o caos para poderem organizar as palavras e as canções.
O tempo não pára e é isso que angustia, uma vez que esse mesmo tempo nos dá a esperança que amanhã será melhor. Para mim, para o aleijado feio e pobre que continua atrás das mulheres. Também não sei por que estou escrevendo isso. São 13 horas. 36 graus. E tudo vai bem. O tempo acabou naqueles aparelhinhos do estacionamento. Fui.