Viver com açúcar

O tempo nos torna menos felizes ou apenas mais questionadores da felicidade? Tudo o que faço parece ser pela ilusão de reviver. Estou sempre querendo voltar ao que em determinado tempo me fez mais feliz.

Em tudo o que faço, acabo reencontrando algum vínculo com as boas lembranças, que afinal são boa parte do que temos para continuar a vida. Boas lembranças do passado e boas idéias para o futuro, eis o que nos move.

Posso sentar para escrever numa noite fria sem ter nada a dizer, mas preciso reviver as frias noites em que sentei para escrever tendo algo a dizer. E para isso ouço as mesmas músicas, deixo ao meu lado os mesmos objetos, a mesma caneca de café, faço do presente um cenário para representar o que já vivi.

Passo por uma locadora de vídeo-games e invariavelmente enxergo a mim mesmo com 12 anos, passando as tardes cultivando o primeiro vício da vida. Penso que deveria comprar um vídeo-game, reviver mais essa felicidade. A idéia só sai da cabeça quando lembro que as tardes já não são mais livres, assim como as manhãs, as noites, as madrugadas. Nos consumimos facilmente.

Em um supermercado, tudo me lembra a infância, principalmente os pães de mel que minha vó comia e sempre me dava um. Não sei passar indiferente pelo pão de mel na prateleira.

Penso onde estaria hoje a garota do primeiro beijo. Acho que só por nunca mais tê-la visto é que a lembrança se faz tão boa. O passar dos anos vai mitificando as pessoas que se ausentam da nossa vida e tornando-as cada vez melhores, conforme não as encontremos de fato.

Não faltam exemplos do quanto revivo, de fato ou no pensamento. Termino parafraseando Verissimo (o Luis Fernando), que certa vez disse que ser avô é o mesmo que ser pai, só que com açúcar. Reviver é como viver. Mas com um pouco mais de açúcar.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 16/06/2011
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