Para Márcia, com amor.
 
 
 
     Ela faz aniversário em junho, a minha irmã Márcia. Dia 17. Alguns a chamam de Marcinha porque é isso que ela parece: uma mocinha bochechuda e risonha. Para nós da família ela é a Marcia mesmo, mãe da Fabiana e do André e por ser a mais nova vai ser sempre a nossa menininha. Queria ter publicado essa crônica no dia 17 – como um presente. Mas era dia do EC e não gosto de postar dois textos no mesmo dia. Vai então com atraso, mas ela sabe que é de coração.
 
     Quando ela foi registrada o nome não era para ser esse – deveria ser Andréa ou Jussara. Assim meu pai foi recomendado, mas quando voltou, tinha colocado o nome Márcia. É que ele se confundiu, sabia que era o nome de uma sobrinha- neta sua, mas qual? Na dúvida colocou o que mais gostava e assim ficou: Márcia, que é realmente com o que ela se parece, suave e macio. Então seria mais uma Marcia na família, do lado de minha mãe também já tinha uma. Ficaram duas: a Márcia do Tio Mané e a Márcia da tia Zenita.
 
     Nunca fui de cuidar das crianças aqui da casa. Essas coisas assim, de dar banho, mamadeira, fazer dormir.Quando era pra fazer dormir eu até que fazia, pegava uma revista e ia ler enquanto com o pé balançava o berço. Acabava dormindo antes. Mas desde que ela nasceu me apossei dela, não para fazer essas coisas, mas para brincar e nos divertirmos. Arrastava ela para todo o lado que eu ia, fazer compras, passear na Praça, ir ao cinema, ao circo. Além de fofinha ela sempre foi muito inteligente. E obediente.
 
     Bem cedo descobriu-se que ela tinha retinose pigmentar, mas isso não impediu que ela fosse uma aluna brilhante, só que precisava que se lesse tudo para ela que então resolvia tudo na cabeça. Graduou-se na Faculdade, em Matemática e até hoje sua cabeça para raciocinios lógicos é fascinante. 
 
     Casou-se e esse casamento desastrado teve como resultado duas grandes bençãos para a vida de toda a família: Fabiana e André. Márcia sofreu com o fim do casamento, mas como nunca foi de chorar o leite derramado, levantou, sacudiu a poeira e deu volta por cima. Depressa demais para o nosso gosto, já que cada um tinha na sua cabeça que agora seríamos nós quem cuidaríamos dela e das crianças. E ainda me lembro bem, foi em um dia em que eu comemorava aniversário e convidei algumas pessoas para uma pizza no Shopping. Foi então que ela perguntou: Posso levar meu namorado? Eu nem sabia que ela tinha namorado e é claro, deixei e passei a noite de olho nele. Logo, logo juntaram os trapinhos e ele os levou para longe, um marido improvável, quatro filhos na bagagem, mais de um casamento desfeito. Mas eu fui com a cara e o jeito dele e por tudo que observo ele é um grande companheiro, amigo, amoroso, cuidadoso. Não poderia haver no mundo melhor pessoa para cuidar dela e dos filhos. Agora eles estão em Recife de onde nem gostariam mais de sair, mas logo, logo, no mês de julho ela e a Bibi virão ficar uns dias aqui. O André não, porque está na fase do vôo solo e vai para a Bahia com os colegas de Escola. 
 
       De minhas lembranças da vida com Márcia eu poderia fazer inúmeras crônicas, mas só quero dizer, para concluir, que se eu fosse definir cada uma de minhas irmãs com uma palavra, a dela seria sábia. Porque ela sabe viver.Sabe conviver. A vida para ela é de mão dupla: muito recebe porque sabe se doar. Eu não conheço uma pessoa que, tendo convivido com ela de coração aberto, não a ame.