PACIÊNCIA, HUMANOS, PACIÊNCIA...

PACIÊNCIA, HUMANOS, PACIÊNCIA...

Um dos fatos que mais marcaram a minha infância era quando meus pais ficavam preocupados sobre nosso comportamento em relação ao outro. “Levante, filhinha, dê o seu lugar a essa senhora”, “ofereça o que come aos demais que estão ao lado”, “peça desculpas quando esbarar em alguém na rua”, “agradeça sempre quando se sentir servido por alguém” e assim vai, numa lista interminável de regras que nós tínhamos que seguir.

Crescemos pedindo desculpas, habituados ao non-verbal de humildade para denotar respeito ao outro. Há anos percebo que somos meio que “estranhos nesse ninho”, num emaranhado de pessoas que não têm noção mínima do que seja a verdadeira educação. A maioria acha que dar um “Bom dia” ou uma “Boa tarde” já lhes dá o aval suficiente para lhes enquadrar no selo de garantia de "bem educadas". Etiqueta é necessário, mas não é suficiente. Definitivamente, educação é saber o limite de seu bem estar, que nem sempre satisfaz o vizinho de ombro, de porta, do que estiver mais próximo. Educar é aproveitar as oportunidades para testar a nós mesmos, dar um crédito de paciência e de aceitação para com o outro, às vezes até fazer o jogo do espelho para saber da situação real. Ser paciente é saber contar até 10 ou se necessário for, até 100...vale a pena começar a contar, ganha-se muito com esses algarismos contados nos dedos na hora certa e no momento certo. No dia a dia, passamos por vários desses testes que nos colocam à prova e nos dá um verdadeiro sabor de vitória quando conseguimos chegar até o número10...ufa! Que alívio! Dá tempo de a adrenalina baixar, o tempo hábil dos neurônios darem a volta quilométrica em torno do cérebro, do coração baixar o seu ritmo e das células nervosas encontrarem as suas amigas sinapses já em estado de quase letargia.

Outro dia, entro no metro lotado. Cheia de mochilas pesadas do laptop e de roupas. Estava de pé “secando” um acento que ia vagar à minha frente. Quando vagou eu, automaticamente, ia me sentando quando uma senhora, de aparência distinta ( daquelas que só parecem educadas para dizer Bom dia ou Boa tarde à vizinhança ou nos meteóricos encontros de elevador). Ela atravessou o braço na minha frente e num gesto brusco puxou o braço da mocinha que aravessou bruscamente na minha frente, forçando-me a me levantar. A menina parecia ter uns 12 anos. Empurrou-me e disse: "É ela quem vai se sentar aqui!" E eu que já estava meio sentada, me levantei, dando lugar à menina imediatamente. Falei calmamente: "Tudo bem senhora!" E justifiquei pelo meu cansaço: "Pena não haver mais lugar, pois estou exuasta e não a teria incomodado. Desculpe-me!"

A senhora me olhou com ódio fulminante por uma causa tão tola, tão banal. Que perda de tempo...pensei!

Logo vagou um lugar atrás dela e eu me sentei aliviada com o peso que carregava. Ainda não satisfeita com o meu gesto de humildade em te-la pedido desculpas pelo banal contratempo, ela se volta e diz para a outra senhora que estava a meu lado: “ Se nós pagamos a passagem, temos direito de nos sentar, não é?" E abraçou a garota, passando-lhe a mão na cabecinha, enchendo-lhe de carinho. Foi aí que pensei: Que pena! Pois seria esta uma excelente oportunidade de ensinar a sua neta a ser gentil, a ser educada para com o outro. Em vez desse carinho, as palavras teriam sido bem mais significativas para toda uma vida. Será que ela vai saber respeitar a sua própria avó quando chegar na sua juventude? Será que ela saberá passar a noção de respeito para as suas gerações futuras? Enfim, são oportunidades como essas que as pessoas deixam passar. São mais importantes do que as etiquetas...paciência! Tudo o que tenho a dizer é: paciência, para nós seres humanos, paciência!!!

Eliane Thompson
Enviado por Eliane Thompson em 19/06/2011
Reeditado em 19/06/2011
Código do texto: T3044125
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.