Um é pouco, dois é bom, mas três...
serão demais.
 
 
 
 
 
 
Minha amiga Helena disse que eu sou a mais jovem da turma de amigas, coisa que não é verdade. Ela mesmo é muito mais nova do que eu. Quando ela disse isso olhei de soslaio, desconfiada. Pensei que ela pudesse estar sugerindo que eu, na ânsia de parecer mais jovem, fosse como uma amiga minha, não dela: nessa ânsia calça sapatos de pulseirinha e meia soquete. E veste umas calças corsário e blusa de babadinhos. Mas antes que eu tivesse um treco, ela continuou: é que seu espírito é jovem, está sempre surpreendo as pessoas com atitudes e pensamentos que as pessoas de nossa idade não têm. Nossa é bondade dela, já que na verdade eu sou da idade é do marido dela, que foi meu amigo primeiro. Embora eu nem concorde com essa definição espírito jovem, pois o que eu gostaria mesmo era de ter um espírito velho, pois penso que quanto mais velho o espírito, mais evoluído ele tem chance de ser, considerei como um elogio, já que os conceitos sobre a idade do espírito nunca coincidem. E depois fiquei pensando no assunto, jogado em nossa terapia de grupo de duas.
 
Olhei para trás de repente e lá estão eles: Sal e Pimenta, olhando para mim de um jeito assustado: - os meus cãezinhos. Minha amiga Helena tem razão – sou imprevisível, surpreendo a mim mesma com minhas atitudes.
 
Fui ao PetShop buscar o meu cãozinho e acabei trazendo dois. São irmãos, iguaizinhos. Não tive coragem de trazer um e deixar o outro para trás. Mas sai correndo  também. Um pode ser pouco, dois podem ser bom, mas três certamente serão demais.
 
Mais tarde: Irmãs em casa, complô de três contra os nomes. Não acharam graça nenhuma e como quero parceiros nessa empreitada, resolvi considerar. Valéria acordou-os e deixou-os excitadíssimos, depois não queriam mais dormir. Levei-os para a área de serviço, um bom lugar para ficarem, mas elas foram lá e puseram tudo para cima para que não derrubassem e se machucassem.
 
Dia seguinte, hoje: levantei antes de todos e fui vê-los. Ainda bem que cheguei primeiro, a área de serviço parecia o cenário de uma festa sem controle – xixi para todo o lado, tive que secar, passar pano molhado, recolher os brinquedinhos (colocaram debaixo do colchãozinho), o tapetinho que deveria ser o banheiro, a mantinha com que dormiram. Lembrei-me da Padaria Rocha, depois que a Banda do Funil passava, no sábado de Carnaval e da trabalheira que deram. Mas eles estavam felizes, alegres e brincalhões, explorando o novo espaço.