Homens que falam demais

Mulheres têm fama de falar muito. É histórico, antológico e pode ser machista, porque por trás desta acusação muitos homens escondem um defeitinho irritante: eles também falam muito. Pode ser que ninguém repare, afinal a pressão em cima da mulherada vem de longa data, porém tenho observado isso já há algum tempo e feito anotações a respeito. Em todos os lugares que vou ou que frequento, há sempre um bocado de testosterona ressoando na atmosfera, em tons normalmente acima dos decibéis aceitáveis. Mulheres falam alto; homens muito mais.

Todos os dias (ou quase todos) um grupo de professores almoça no mesmo restaurante que eu. A presença deles é tão marcante que quando não aparecem sinto falta, pois sempre divertem meu solitário horário de refeição. Eles chegam falando, pedem a refeição falando, se servem falando, se encaminham para a mesa sem parar de tagarelar e, juro, não sei como conseguem comer falando tanto. E falam alto, e discordam entre si, discutem, se desentendem. Os assuntos são variadíssimos, desde a política nacional até o milionário blog da Maria Bethânia. Esta semana um deles se exaltou além da conta e o colega disse “pô, não dá pra conversar com você, cara, você fala muito”. E são inseparáveis.

Observe um ambiente cheio. A quantidade de homens e mulheres é até equilibrada. Que vozes mais se ouvem, as masculinas ou as femininas? Outro exemplo: mesa de bar. Nem é preciso ouvido atento para escutar o vozerio dos cuecas presentes. E como falam, e como xingam, e como riem e gargalham. São felizes estes caras.

Locais comumente frequentados por mulheres, os salões de cabeleireiros atualmente recebem uma clientela masculina cada vez maior. Preocupada com a estética e com o visual moderno, a rapaziada não só tem comparecido quase religiosamente aos salões quanto tem assumido que gostam tanto de exercer seu poder de falatório quanto as donas das madeixas mais compridas e alisadas nos secadores. Vi, vejo, presencio os caras lavando, hidratando, cortando e falando, falando, falando.

Dia desses estava à mesa de um restaurante, novamente sozinha, e ao lado um grupo formado por quatro homens e duas mulheres falava do caso da professora de Volta Redonda que foi flagrada com o aluno de 15 anos num motel. O marido, segundo diziam, perdeu a razão ao fazer todo aquele escândalo, envolvendo a imprensa e a polícia. E dali surgiram comentários diversos, dos mais sórdidos às inevitáveis piadas, dando razão ou não à professora. Arrisque responder: quem mais falava, ria alto, xingava e vociferava? Homens, claro. As duas mulheres só assistiam e riam baixo.

Agora, brincando sério, pior que homem que fala muito é homem fofoqueiro. Pensa aí. Você conhece um. Conhece, sim, com certeza, porque este ser abjeto é mais comum do que se pensa. É uma presença que se faz amiga, mas na verdade é nefasta; está sempre por perto, rondando, o tempo todo coletando informação para reproduzir logo ali na frente, pelo simples prazer de dizer a alguém que sabe algo sobre sua vida e que ninguém mais sabe. E conta, salivando de prazer. Penso que este tipo deve ter uma vidinha muito borocoxô, para se interessar a este ponto pelos atos alheios. De mim, merece no máximo meu risinho de desprezo e quando muito um deboche. Ui!

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 21/06/2011
Código do texto: T3048331
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