Desaprendi o amor

O amor é um curso vital e dele jamais sairemos formados. Na escola do amor ninguém se forma: cada um é um eterno aprendiz. Faltar a esse curso, não ir à essa escola, é deixar de saber.

Quando faltei a uma certa aula, não aprendi a generosidade, a virtude da exclusividade mútua traduzida no compromisso entre amantes que são iguais.

Quando me ausentei do curso, deixei de entender o que é atenção. Aí, passei a colocar minha interpretação na fala do outro, provocando estranhamento em lugar de compreensão.

Tive preguiça e não fui à escola do amor. Naquele dia adquiri a mania de pressupor que o outro tem que adivinhar o meu conteúdo mental, meus pensamentos, sentimentos e emoções. Desaprendi a comunicação.

Em outra ocasião eu não respondi à chamada no curso do amor. Meio esquecido, aprendi a indiscrição em relação aos “ex”. E a mim me pareceu prazeroso torpedear destrutivamente o amor no outro com minhas comparações, lembranças e outras coisas de afetos já em outra.

Sim, faltei ao curso do amor umas outras vezes, exatamente quando lá foi ensinado que nenhuma relação de amor é suficientemente plena para extinguir a necessidade de coleguismo, companheirismo e amizade fora do encontro. Com isso, me enganei pelos “Não vivo sem você”, “Você é minha vida”, “Sem você eu morro”, esses pratos cheios que engordam os adeptos da tirania no amor.

Quando teve uma palestra sobre etiqueta relacional, essa não contou com a minha assistência. Acabei por ser influenciado pelos fatídicos jogos comportamentais, os quais se valem de mentirinhas inofensivas e comecei a não perceber que dizer o que não faço ou fazer o que nunca digo são coisas inapropriadas ao amor sadio.

Em certo encontro na escola do amor os aprendizes estudaram como o amante deve ser nutritivo ao ser amado, feito o adubo que alimenta o verdejamento da planta, mas nesse encontro eu também não fui.

Faltei a outra aula e eu deixei de aprender a empatia, ganhei a incapacidade de me deslocar ao lugar do outro e no lugar dela surgiu a cegueira para os olhares que poderiam estar direcionados a uma mesma direção.

Na reunião de pais, mestres e aprendizes do amor eu não pude ir, pois estava praticando a não-dedicação à relação. Dessa vez, não soube que, a dois, é o “nós” que está em jogo, e não me vi no ser amado em quem a unicidade nos fazia o terceiro de cada um.

Nessas faltas ao curso do amor acabei me viciando em pensar que a garantia do outro em minha vida me dá o direito de tê-lo como um qualquer. Sim, deixei de saber que se a pessoa amada não é especial e única para mim, somos, ambos, ignorantes do amor.

Pequenas ausências. Grandes coisas ignoradas.

Mas o amor permaneceu onde sempre esteve, pedindo-me uma única coisa: que eu entrasse nele para saber. Eu, relapso, me ausentando, comportando-me como todo mundo, quando, na verdade, sou singular e devo saber por mim mesmo o que é esse assombroso e vital enigma.