Filosofando o amor
 Águida Hettwer
 
  Ao longo da história da humanidade, os mitos, as escrituras, a filosofia abordam o tema amor com muita freqüência, no entanto, há dificuldade de decifrá-lo, entendê-lo, racionalizá-lo se isso fosse possível. Celebrado na poesia, na música, na história de vida do sujeito, o amor não sai fora de moda.
Quando falamos de amor, pressupõe uma relação legitimada de duas pessoas, o poder que exerce o fascínio e atração sobre os indivíduos envolvidos. O amor Eros, predomina o desejo, a procura do outro que possa completar. Podemos afirmar que o homem é um ser “pensante” e infinitamente “desejante” e ambos os princípios são fundamentais para realização do ser humano.
 
A palavra amor foi usada de várias fontes antigas e contemporâneas, Ágape, como um termo de amor e afeição, para o cristianismo o amor Ágape, é um amor paciente, amável, sem inveja, não se irrita facilmente, não é rude e nem orgulhoso, rejeita o mal e rejubila com a verdade.
 
No entanto, uma relação amorosa na completude, deve ser regada na capacidade de reconhecer o outro, como outro ser, princípio ético, fundante na relação. Não como um objeto, algo manipulável, onde se apropria de uma coisa, mas compreender que o outro, é um ser desejante também, com suas peculiaridades e subjetividade, o amor recusa o egoísmo, o desejo do outro é nosso desejo, em transferência. Quem ama verdadeiramente não faz do outro um “cativeiro”, estabelece vínculos de respeito, união, numa escolha mútua de estar juntos.
 
Contudo, por mais que o Outro seja a completude do nosso ser, e venham de encontro as nossas necessidades, desejos e anseios, esse Outro ser, não deve ser a pedra fundamental da existência. É imprescindível estar ciente que somos plenamente distintos, e que a vida por si só têm lugar significante, e somos uma unidade, com digital inigualável em todo o universo, e somos capazes de estar no mundo e vivenciar, paz, amor e felicidade, sem a dependência do Outro.
 
Pois afirmar-se, como um ser no mundo, e ser com os outros, acima de tudo pressupõe, ter liberdade e autonomia, de ser feliz, sem ter encontrado sua “cara metade” e não alargar e colocar o peso da responsabilidade de plena felicidade no outro ser, pois a autenticidade humana vai além de sobrecarregar o Outro, com nossos anseios e demandas. Pois estaríamos condenados a vagar infelizes, sem chão e sem teto.
 
Amar e ser amado, a fusão de dois seres em um, ensina a romper com o nosso egoísmo, reclama assumir responsabilidades, compreender que o Eu, não se basta por si mesmo, no entanto, sem perder a individualidade e racionalidade, se faz necessário, deixar morrer o velho/homem, para ressurgir um novo ser pautado no amor, no respeito e na ética.
 
 
Quem ama, deleita num mar de diversidades, e encontra-se só, sobretudo feliz, consigo mesmo. Respeita seus próprios limites, é sensível, dinâmico, aprende a curar e cicatrizar feridas, e faz delas, sua ponte que transcende o sucesso. Encontra forças para instaurar harmonia consigo e com os outros, e experencia e vivencia cada segundo, com a intensidade como se fosse o ultimo.
 
O amor pressupõe vinculo e identidade, lugar significante, constituído em uma relação de reciprocidade e alteridade. No amor, não há necessidade de “nota de roda pé” e especificação, somos seres, conduzidos e norteados, livres com responsabilidade, condição de zelo, consciente e senhor de seu agir.
 
 
                                                                                              21/06/2011