NAQUELE TEMPO

Seu Juarez toda tarde sentava-se no banquinho do portão de sua casa e, aos poucos, chegavam os seus companheiros de papo. Lá, apareciam de todas as idades. Seu Juarez que já entrara nos sessentas há algum tempo, gostava mesmo era de conversar com os jovens, saber de sua idéias e tendências futuras.

Falava-se sobre quase tudo: política, esporte, religião, música, informática, novidades da ciência, etc.

E, por aí, muitas vezes, se adentrava a noite. Vez por outra, até aparecia um "cafezinho" ou refresco, dependendo da época do ano.

A bem da verdade seu Juarez gostava de conversar com os jovens dar-lhes conselhos, orientá-los. Tinha grande afeição por eles. Mas João, o Joãozinho, era seu jovem preferido para conversar, bater um bom papo, trocar idéias. João era magro, alto, sorridente de sorriso fácil e de inteligência acurada. Sabia fazer perguntas, tinha habilidade para discordar sem ser grosseiro e era dono de uma lógica contundente na hora de argumentar. E seu Juarez não ficava lhe devendo nada; ao contrário, era páreo duro.

Isso sem falar que a turma gostava do debate lingüístico e de idéias entre os dois, entre duas gerações, e botavam mais lenha na fogueira.

Numa dessas conversas, havia apenas quatro conversantes, mas o assunto acabou por se polarizar entre Juarez e João.

Juarez - Bons tempos foram aqueles dos anos cinqüentas e sessentas.

João - Que nada! Bom tempo é agora, é já.

Juarez - Naquele tempo não tinhamos tanta violência.

João - Nem tanto conforto como agora. Agora nós temos geladeira Frost Free, forno de microondas, computadores, internet, raios laser, tomografia, etc., etc.

Graças a nós dos bons tempos. Tempo do rock, sabias? Para voce é novidade agora, já, mas o conheço há meio século. Nosso fogão a gaz ainda é usado por milhões. Nossas geladeiras, se bem que poucas àquela época, faziam gelo e gelavam muito bem. E ainda existem muitas por aí. temos a inetrnet mas é acompanhada pela inFernet.

João - Naquela época morria-se até de sarampo. Hoje temos vacinas para quase tudo.

Juarez - Disseste muito bem: "para quase tudo". O sida não tem. Herpes ainda não tem cura; sífilis ainda aleija muita gente, a tuberculose voltou pior e com mais força. Quer mais?

João - Hoje, milhões têm carro; o estudo é mais avançado, a informação científica é muito superior e mais rápida.

Juarez - Concordo que a ciência avançou. Mas, avançou graças ao conhecimento que deixamos para voces. Quanto aos milhões de carros, provocam uma tremenda de uma poluição, isso sem falar nos engarrafamentos cada vez piores.

João - Hoje a alimentação é mais saudável, as roupas são feitas de tecidos mais leves e resistentes. Tudo pode ser reciclável.

Juarez - Não a alimentação à base de produtos químicos, cujos resultados são, por mais das vezes, catastróficos.

Trocaram o regime alimentar, que era baseado no nosso clima e, hoje, temos um exército de obesos. A obesidade é produto da época atual com suas gravíssimas conseqüências, tais como hipertensão, diabetes, varizes, formção de cálculos, etc.

E, para seu conhecimento, está para surgir um tecido que substitua o linho.

A reciclagem é o resultado de uma política ambiental e tornou-se uma questão imperiosa reciclar tudo o que for possível.

João - E aí, tio Juarez, já observou as gatinhas saradonas de hoje?

Juarez - Todo cuidado é pouco, rapaz. No meu tempo conhecíamos apenas seis DSTs. Nada que uma boa penicilina não curasse. Hoje são quarenta, eu disse quarenta DSTs e algumas não têm cura e até matam. Cuidado, bacana!

Juarez - Já passam das 21.00 horas, vou para meu berço. Aprendi que dormir cedo faz bem para a saúde. É só nos lembrarmos das "balas perdidads" - perdidas não, "achadas".

João - É seu Juarez, neste ponto sou obrigado a concordar com o senhor. Boa noite e sonhe com a Marylin Monroe.

Juarez - Boa noite rapaziada. Espero que sonhem com ela também. Pelo menos não era loura de "farmácia".

João - Em tempo, seu Juarez: Com tudo de bom ou de menos bom eu não trocaria, com dezessete anos, o tempo de hoje pelo seu tempo.

Juarez - Tens razão Joãozinho, eu também não trocaria aquele tempo pelo atual. Sabes porque? Porque naquele tempo eu é que tinha dezessete anos. Ate amanhã!

FARNEY MARTINS
Enviado por FARNEY MARTINS em 29/11/2006
Código do texto: T305045
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