Já é tarde...

O sol se pôs, levou todos os sonhos, poucas esperanças restaram, com elas, ficaram algumas das mais tristes lembranças, meu peito se reprime, congela com as vozes do outro lado da rua, quero levar para você todo este amor, mas algo acontece comigo... não posso....

A razão já não luta, o pavor maior já se passou, contornei a mesma esquina por tantas vezes, aqui estou no mesmo lugar, te olho, você não... nem se mexe, ali, serena, frágil... te toco com o pensamento... ainda não... não posso....

O tempo se passa, me escondo, me agarro e me pego sempre na mesma direção, olhos fixos nos teus, que não me notam, não me vêem, nem me enxergam... coração aflito, a carta nas mãos, o corpo trêmulo, vou... não dá, nem posso....

Meu bem, olhe-me por favor, ouça a voz do meu íntimo, estou aqui com todo o meu amor nas mãos para te dar, mas... algo me prende no mesmo lugar, não consigo me mover, nem mesmo um passo na sua direção... TE AMO... mas não... não posso...

Vou, estou indo, atravesso a rua, percebo que você me nota, sorri mas logo se vira, de repente... nossa como eu te quero.... você se levanta, paro por alguns instantes, não sei se por medo, ou se para observar seu horizonte, o verde mar dos teus olhos avistou um ponto fixo, onde eu também olhei.... Logo, eu ali, tão desajeitado, flores perfumadas nas mãos, um amor imenso no peito, parei... aquele que oculpa teu coração e toma teu corpo nas noites mais frias tornando-as mais quentes te esperava, te olhava ternamente assim como eu, porém, ele sabia que você poderia retribuir-lhe o afeto....

Larguei as flores ao chão, sequei a primeira lágrima que veio aos olhos, correndo a face já pálida, respirei fundo e disse a mim mesmo...

"Querida minha, perdeste o mais belo dos amores, mas agora, já é tarde!"