Cortinas

Em épocas passadas, nos teatros, percebiam-se três ou quatro cortinas corta fogo, pintadas em cores vivas.

No iniciar da peça ou em seus intervalos, eram retiradas uma a uma.

Na platéia tinha-se a sensação de não saber se era mais uma cortina ou a própria peça que se via. Só quando a última cortina era retirada, nada mais havendo, platéia e atores ficavam frente a frente.

Assim o relacionamento entre as pessoas. Muitas cortinas devem ser retiradas antes de se poder entrar em contato vivo com o outro que se acha por detrás.

Existem demasiadas consciências emparedadas...

Muitos obstáculos à vida e ao amor, vem do fato que as pessoas insistem em ficar emparedadas dentro de si mesmas acariciando seus pensamentos e suas experiências como uma espécie de tesouro pessoal.

Amor e paz fogem delas e as abandonam. O medo e o desespero do emparedado é, então, uma espécie de inferno.

Retiremos, portanto, as cortinas: auto-suficiência e auto-complacência.

Todo y nada

São João da Cruz

Em uma noite escura,

De amor em vivas ânsias inflamada,

Oh! Ditosa ventura!

Saí sem ser notado,

Já em minha casa estando sossegada.

Na escuridão, segura,

Pela secreta escada, disfarçada.

Oh! Ditosa ventura!

Na escuridão velada,

Já minha casa estando sossegada.

Essa luz me guiava

Com mais clareza que ao meio-dia,

Aonde me esperava

Quem eu bem conhecia,

Em sítio onde ninguém aparecia.