O ratinho e o garrafão de água mineral

Naquele sobrado afastado

No depósito do Nataniel

A carne seca exalava

Perfumes que vinham do ceu

Insuperaveis queijos de Minas

E um pote de hidromel

O meigo ratinho Michel

E a ratazana Raquel

Faziam daquele lugar

Um aprazível motel

Mil vezes mais divertido

Que a casa de Jezebel

Por lá apareciam

A Doralice e a Bell

E um ratinho "gay" enrustido

Por nome de Daniel

Que era o mestre cerimônias

E um doce Menestrel

Nas noites de lua cheia

Ou noites de lua escondida

Fazer sexo grupal

Era uma boa pedida

Oh! Como é doce o amor!

Ah! Como é bela a vida!

(Memórias poéticas de Albacongo)

(Zé Canjica)

Foi assim que o povo de Albacongo começou a desconfiar da saúde pública, e observar os atributos da higiene como uma forma de bem

viver.

Era uma bela manhã de Janeiro quando a cidade entrou em pânico!

Na rua Turmalina morreu dona Esmeralda;

Na rua das rosas desencarnou João Cravinho;

Na rua bananópolis Bananeira balançava;

Na rua da paz Guerra estava fora de combate;

Na avenida branca, adoeceu Mixael Jean Pablo Nascimento

Nascimento e Nascimento, Encarnação;

E no boulevard 6, morre Piero Settte.

A febre e a tremedeira tomam conta dos habitantes da cidade, indiscriminadamente.

Dona Mariazinha e dona Zilá fizeram bagagem para uma peregrinação a Roma, incluindo promessas para a saúde da população.

Pastor Temístocles convidou os Protestantes para uma jornada de jejum e orações, para a limpeza espiritual: Arrependimento, perdão e graça.

Frei Jaime Maria Lagostela passava pela cidade e ocupou o

serviço de alto falante para alertar sobre a "ira divina",

e convidou o povo para uma "via sacra" e procissões noturnas, confissões, penitencias e muita agua benta nos lares, e pediu

ajuda ao Prefeito Zé Cordeiro de Vasconsselllos da cidade vizinha, para avaliar a situação.

No dia seguinte chega à cidade de albacongo o sanitarista

"GS", preocupado porem tranquilo, com a calma daqueles que

sabem.

Em uma semana fez o levantamento sanitario da cidade, e junto ao doutor Avicena, passou a trocar experiencias, sem conclusão.

definitiva.

A população sofria. Tremia e sofria!

Na oitava noite de plena lua, por "sôpro divino", ouviu

sussurros, gritinhos e gemidos, no deposito de garrafões de água

mineral, que servia a cidade. Pelas grêtas presenciou a orgia de ratos que tomavam conta da mercearia.

Era Michel com sua côrte! Era o randevú! Era a consagração

da libertinagem!

Na exaltação carnal, faziam amor em cima dos garrafões de

agua mineral, e iam contaminando tudo com o vírus da Leptospirose, a febre aética, e o delírio malsã.

Pela manhã interditou o local usado por Michel como clube

de sacanagem, para apanhar mostras de material para analizar no Sesp da cidade vizinha.

Encontraram: Esperma de rato, saliva, urina, fezes "in natura" , muito pêlo e sinais de sacanagem geral.

Era a furrupa, o ménage a trois, a evidencia do mais autentico bacanal.

Era dalí que irradiava o foco das doenças que incomodava,

e estava levando o Albacongo ao desespero.

"A antropologia - Morfológica - Psicológica - Libido-

Estética - Orgástica - Imaginária - Ancestral - Carnavalesca - Animalis.

Mandou fechar todas as saídas: Detonou! Acharam até corpos

de grilo, estufado!

Depois mandou dar uma geral, principalmente nos garrafões

de agua. Mandou lavar com agua sanitaria e mandou colocar

um aviso bem grande com tinta vermelha lavável:

"LAVAR BEM ANTES DE USAR"

Tempos depois, quando eu pude entender os fatos, G.S me explicou como funcionava a propagação da doença:

Em primeiro lugar, os ratos infectados depositavam o resultado da sacanagem em cima dos garrafões de agua mineral.

Em segundo lugar, o povo de Albacongo não tinha muita noção

de higiene, nem o vendedor da agua mineral, orientava, que

o garrafão deveria ser higienizado antes de ser colocado

no suporte.

Como o garrafão é colocado de cabeça para baixo, a parte de

cima, onde é depositada a sujeira, é captada, e bebida misturada com fezes de barata, môsca varejeira, besouros, cagadas de morcego, e

esperma de pulgas.

Daniel escapou! Foi visto pelo Bastião "bôca de fôgo" em uma fazenda em Aimorés, no meio de uns violeiros e fotógrafos. Gostava de luzes, cameras e ação. Queria ser fotografado e ganhar mundo, ficar

expôsto nas galerias de Roma e Pequim. Sonhava!

O mundo era salgado, o sonho doce!

Que a situação esteve feia, esteve! Quase fora de controle,

tambem!

"GS" não fez a diferença?