ANTES QUE SEJA OBRIGATÓRIO...

Não pretendo entrar no mérito da questão, mas apenas lembrar uma historinha que se contou, com bastante frequência, ao tempo em que a internet ainda não se estabelecera como veículo comum de comunicação entre as pessoas e as anedotas só se espalhavam pela velha e conhecida “técnica do cochicho”.

O escritor Oscar Wilde, como muitos sabem, ainda na Inglaterra Vitoriana, esteve preso na Torre de Londres, pelo fato de haver assumido a sua homossexualidade publicamente. Em 1895, após três julgamentos, foi condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados por “cometer atos imorais com diversos rapazes”, como consta da sua sentença.

Isto arrasou a sua vida e a sua reputação, embora, garantam os seus biógrafos, a trágica experiência o tenha tornado ainda mais culto e filosófico, sempre defendendo “o amor que não ousa dizer o nome, definição sobre a homossexualidade, como forma de mais perfeita afeição e amor”[1]. Morreu em Paris, onde adotara o pseudônimo de Sebastian Melmoth, vitimado por um violento ataque de meningite.

Com o passar do tempo, a Inglaterra começou a lidar com a questão do homossexualismo de uma maneira menos intolerante, o que facilitou, obviamente, para que as chamadas relações homoafetivas pudessem ser assumidas de forma pública, mesmo que sempre existam pessoas, grupos ou igrejas que discordem disto e, não raras vezes, demonstrem a sua discordância de forma hostil e violenta. Ou disparando uma saraivada de bobagens mal articuladas, temperadas por erros grosseiros de concordância, como fez a Mirian Rios, da tribuna da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, há pouco tempo.

E assim foi, até que, em dezembro de 2005, O Reino Unido tornou-se o quinto país do mundo a autorizar o casamento homossexual, acompanhando a Holanda, a Bélgica, a Espanha e o Canadá. E o cordão desse novo “status quo” foi puxado por uma figura de peso: o cantor pop Elton John, que, com pompa e circunstância, celebrou o seu casamento com o seu companheiro canadense, David Furnish, logo no primeiro dia de vigência da nova lei.

Mesmo antes que o fato social se transformasse em fato jurídico, ao tempo em que as relações entre pessoas do mesmo sexo eram permitidas, mas ainda não legalizadas e antes, também, que a internet acabasse com o ineditismo de todas as piadas, correu, entre nós, uma historinha que motivou este texto.

Dizia que um sujeito, andando por uma rua do no Rio de Janeiro, encontrou-se com um velho conhecido, que se mudara, há muitos anos, para Londres. Surpreso com aquele encontro, deu-lhe um abraço efusivo e com jeito de admiração, perguntou ao outro:

— E aí, rapaz, passando férias no Brasil?!

A partir do que ocorreu o seguinte diálogo:

— Não... Estou morando no Rio de Janeiro outra vez.

— Mas como? Você não está radicado na Inglaterra?

— Estava... Mas desisti de lá e voltei para o Brasil.

— Mas por que? Da última vez que nos vimos, você disse que adorava Londres, que estava inteiramente adaptado ao estilo de vida dos ingleses e que não se acostumaria mais ao ritmo das coisas por aqui, não se lembra?

E o recém chegado explicou:

— Cara, quando eu fui morar em Londres, o homossexualismo era proibido por lá... Passado algum tempo, começou a ser tolerado... Mais recentemente, passou a ser permitido... Aí eu decidi vir embora com a minha família, antes que se tornasse obrigatório!

Lendo sobre o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo, realizado no Brasil neste mês de junho, acho que aquele ex-morador de Londres vai ter que se mudar de novo e procurar outro país para morar. Mas aviso logo que nem pense na Argentina!

[1]Cardoso , Plinio Balmaceda. 'Oscar Wilde': estudo bio-bibliográfico. Rio de Janeiro: Editora Livraria do Globo, 1935. 267 p.